Título: 'Não sou empregado do governo', diz Renan
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A10
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou ontem, durante almoço com empresários, em São Paulo, que não é "empregado do governo". Foi uma reação à avaliação governista de que o seu apoio teria agregado poucos votos ao deputado Aldo rebelo (PC do B-SP) na eleição para a presidência da Câmara. Renan ainda lavou as mãos quanto ao insucesso da pré-candidatura de Michel Temer (PMDB-SP). "Ele tem um grande perfil, mas não tem votos. Ele teve de encontrar argumentos para justificar o fracasso", atacou, reagindo a declarações do presidente do PMDB sobre "traição" do senador.
O tema do encontro com os empresários era a criação de uma agenda mínima contra a paralisia do governo em meio à crise política. Mas os assuntos dominantes foram a eleição na Câmara e o racha interno do PMDB, agravado com o apoio declarado pelo presidente do Senado a Aldo Rebelo. Temer - que desistiu da disputa - agora capitaneia um levante contra Renan e seu grupo.
Indagado sobre a avaliação negativa, dentro do governo, sobre o seu apoio a Aldo, Renan reagiu: "Eu não tenho compromisso com o governo, de dar votos. Eu sou presidente do Congresso. Antes de ter o apoio do presidente do PT, eu tive o apoio do PFL e do PSDB."
O senador fez dura crítica a Temer e afirma que só passou a defender a candidatura Aldo quando percebeu que a do PMDB não decolaria. "Uma coisa é disputar eleição, outra é brincar de disputar eleição. Eu não brinco de disputar eleição."
Renan foi além, afirmando que chegou a contatar o presidente e o líder do PFL, Jorge Bornhausen e José Agripino, além do líder do PSDB, Artur Virgílio, para tentar concretizar a candidatura Temer. "Defendi o perfil do Michel para o presidente Lula", acrescentou. "O problema é que a candidatura existia apenas dentro de um segmento do PMDB."
PROVOCAÇÃO
Renan ainda aproveitou para fazer uma provocação. Lembrou que, quando Temer entrou como vice de Luiza Erundina, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 2002, a estimativa de votos caiu de 13% para 3% nas pesquisas eleitorais.
Em duas ocasiões, a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) interrompeu a fala do presidente do Senado para atacar a liberação de verbas pelo governo, às vésperas da eleição. E foi aplaudida pelos empresários.
Durante o almoço, o presidente do Senado também falou de uma de suas principais bandeiras: a mudança no sistema eleitoral brasileiro. Para ele, ainda há formas legais de se viabilizar um novo sistema que coíba a corrupção. "Não adianta apurar e punir se a lei eleitoral não muda."