Título: PF envia na segunda relatório ao Supremo
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A12

A Polícia Federal vai enviar na segunda-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório parcial do inquérito do mensalão, cujo prazo terminou ontem. O documento deve detalhar as diligências realizadas até agora e pedir mais tempo para concluir as investigações. Por se tratar de inquérito sob segredo de Justiça, a PF não confirmou os nomes das pessoas sobre as quais já há elementos suficientes para pedir ao Supremo o indiciamento pelos crimes de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, entre outros. Em vez disso, a PF divulgou nota na qual nega que esteja fazendo agora o indiciamento do empresário Marcos Valério de Souza, acusado de ser operador do caixa 2 do PT, e dos demais envolvidos no esquema - incluindo os 12 parlamentares, já investigados, entre os 18 que sacaram recursos das contas do empresário. A nota diz também que o despacho a ser enviado ao STF não definirá quais os tipos penais em que os investigados podem estar incursos. Essa tarefa, segundo um delegado que atua no caso, será executada só ao final da prorrogação do inquérito.

ARRECADAÇÃO

As investigações da PF já detectaram, porém, que Valério operou entre 2002 e 2003, em parceria com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, um esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para distribuição entre parlamentares e partidos da base aliada. Um dos beneficiários foi o marqueteiro Duda Mendonça, que confessou ter aberto a offshore Dusseldorf, nas Bahamas, para receber R$ 10,5 milhões de Valério, como parte da dívida do PT com a campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.

Pelo menos 20 pessoas já estão com rol de provas formado, mas caberá ao STF decidir sobre o indiciamento de cada uma, provavelmente só ao final do inquérito. A continuidade das investigações poderá adicionar novos nomes aos já investigados. O deputado José Dirceu (PT-SP), um dos que serão investigados na próxima fase, informou, por meio de sua assessoria, que não está se recusando a depor ou a colaborar com as investigações.

Seu advogado, Nélio Machado, informou porém que Dirceu só se apresentará para depor se a PF lhe fornecer cópia de todo o inquérito, que soma 46 volumes, para análise e preparação da ampla defesa do cliente, como garante a lei. Caso a PF continue se recusando a fornecer os documentos, ele ameaça mover ação judicial para obtê-los. Por outro lado, se o STF abrir a exceção para Dirceu, outros acusados poderão requerer o mesmo direito e o inquérito se prolongará durante meses.

As investigações da PF, a exemplo da CPI dos Correios, também constataram que a versão do empréstimo nos bancos Rural e BMG, divulgada por Valério para justificar o montante de R$ 55 milhões usado na distribuição de dinheiro a parlamentares e partidos da base aliada, teria sido uma farsa engendrada pelo empresário junto com o tesoureiro do PT para encobrir a origem ilícita dos recursos.