Título: Maluf alega que está 'muito mal' e pede para ser internado
Autor: Fausto Macedo e Fabiano Rampazzo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A20

Paulo Maluf, prisioneiro federal há 21 dias, pediu ontem autorização para ser transferido para um hospital particular, o Sírio-Libanês - seus advogados alegam que ele "está muito mal, com infecção e dores terríveis, mal consegue andar". A defesa destaca que Maluf "não é um réu comum", porque foi prefeito de São Paulo duas vezes e governador do Estado, daí merecedor de "tratamento médico adequado", mesmo porque as despesas serão bancadas por ele próprio. Para a Procuradoria da República, no entanto, tais argumentos não são suficientes para tirar Maluf da Custódia da Polícia Federal. Se ficar efetivamente constatado, por laudo médico, que o ex-prefeito necessita de tratamento, ele poderá ser removido, não para o Sírio - segundo a Procuradoria, a regra impõe internação no hospital penitenciário, que é para onde vão os reclusos que respondem aos chamados crimes comuns, traficantes, seqüestradores, homicidas.

Raecler Baldresca, juíza-corregedora federal, não tomou decisão acerca do pedido da defesa. Deverá fazê-lo na segunda. A defesa juntou ao pedido manifestação do médico Sérgio Nahas, do Sírio, que requer autorização para fazer dois exames em Maluf, endoscopia e colonoscopia. Na última terça-feira, Maluf foi parar no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas. O exame de cateterismo não indicou enfarte.

"Uma pessoa está morrendo, é dever e obrigação do Estado diligenciar por alguém que está sob sua custódia", protestou o criminalista José Roberto Batochio, que integra a força-tarefa para defesa de Maluf.

A transferência para o Sírio foi solicitada menos de 24 horas depois que a juíza Silvia Maria Rocha, da 2.ª Vara Criminal Federal, rechaçou pedido de revogação da ordem de prisão preventiva que pesa contra Maluf e seu filho mais velho, Flávio, processados por crime contra o sistema financeiro (evasão fiscal), corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Pai e filho são apontados como os principais beneficiários da conta Chanani, US$ 161 milhões depositados clandestinamente em Nova York.

Foi a terceira investida da defesa, sem sucesso. Silvia Rocha decretou a custódia dos Maluf na tarde de 9 de setembro. Eles se apresentaram espontaneamente à PF. Seus advogados entraram com habeas-corpus no Tribunal Regional Federal (TRF), mas o juiz Luciano Godoy manteve a decisão de Silvia. O segundo habeas-corpus chegou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o ministro Gilson Dipp também não alterou a medida da juíza federal. No início da semana, os advogados retornaram à 2.ª Vara Criminal com o pedido de revogação. "Prevalecem os motivos ensejadores da prisão", sentenciou.

A defesa prepara-se agora para ir ao Supremo Tribunal Federal, máxima instância da Justiça. Exímios criminalistas, os advogados sabem que a tarefa não é simples. Um passo em falso poderá arrastar a causa por meses a fio - e Maluf na prisão - até que o mérito dos pedidos em habeas-corpus seja, enfim, julgado.