Título: Eleição não deve parar integração, diz Lula
Autor: Denise Chrispim Marin e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Nacional, p. A25

No encerramento da Primeira Reunião de Chefes de Estado da Comunidade Sul-Americana de Nações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo para que os presidentes da região não deixem os anos eleitorais atrapalharem a integração de seus povos. Pediu, ainda, que o processo de união seja mantido, mesmo com a troca dos governantes da região. "Muitos de nós aqui têm mais um ano de mandato e uns serão candidatos, outros não podem ser; uns irão ganhar, outros vão perder", disse. "Não podemos permitir que, em função de ano eleitoral, em que alguém não vai ser candidato, porque não pode, se diminua a disposição do trabalho para consolidar o que estamos fazendo."

Para defender sua tese, Lula ressaltou que a integração é o legado que os presidentes deixarão às novas gerações. "Não sabemos o que vem depois de um governo. Não sabemos da disposição política do outro e, por isso, é preciso a participação da sociedade na discussão do que estamos fazendo aqui, para que não seja uma coisa de um presidente, mas dos povos."

Lula disse que foi o responsável por retomar a discussão sobre integração regional. "Acredito que nós crescemos, em três anos, mais do que a Europa nos seus primeiros cinco ou dez anos de integração." Apesar disso, ressaltou que o processo está apenas no início.

VIAGENS

Lula aproveitou para defender as suas viagens ao exterior, alegando que é um esforço pela união dos países da região. "Às vezes, fico pensando se devo fazer mais uma viagem. Se não seria melhor ficar no Brasil, resolvendo os meus problemas, do que fazer uma viagem", disse. "Como eu acredito que a arte da política é a arte do diálogo, é a arte da conversa, é a arte da convivência, é o olhar, é o pegar na mão, é a divergência, é a convergência, eu, mesmo contrariado, tenho feito muitas viagens."

"Podem ficar certos de que, até o fim do meu mandato, vou fazer tantas quantas viagens eu entender que podem ajudar na construção da unidade sul-sul, da unidade América do Sul e África, da unidade América do Sul-América Latina, porque eu acho que nós fizemos coisas que muitos estudiosos não acreditavam que pudessem ser feitos."

Lula listou o que considera os avanços de seu governo. Destacou que, pelo G-20, foi possível chegar a vitórias na Organização Mundial do Comércio (OMC) e ao debate sobre a reforma do Conselho de Segurança da Organização da Organização das Nações Unidas (ONU).

"Isso só foi possível porque nós ganhamos força. Isso só foi possível porque nós estamos deixando de ser coadjuvantes da história política mundial para sermos artistas principais nessa história", comentou.