Título: Bandido é visto como vítima, diz professor
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Metrópole, p. C1,3

Para especialista, falta a noção liberal de que cada um responde pelo que faz no País

A população vê o criminoso como vítima das circunstâncias sociais e não entende a lógica da escolha. Assim o professor Leandro Piquet Carneiro, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), explica o resultado da pesquisa do Instituto Ipsos. "O brasileiro não tem aquela visão liberal clássica, no sentido de que cada um responde pelo que faz. Ele, de certa forma, justifica, entende e explica o que o criminoso faz", afirma o professor. Segundo ele, essa visão tem origem histórica. O Brasil não tem tradição armamentista - não houve guerra de independência nem pela abolição da escravatura, como ocorreu nos Estados Unidos, por exemplo. Nada que levasse o brasileiro a uma corrida às armas.

"O Brasil sempre teve governo central bem organizado e coeso. A monarquia garantiu isso e trouxe uma série de restrições ao acesso às armas. Nos Estados Unidos, a arma era fundamental para organizar a vida em comunidade e era até associada à virtude cívica."

Carneiro destaca que cerca de 50% dos lares americanos têm armas. As últimas pesquisas sobre o Brasil dão conta de que há armas em cerca de 4,5% das casas do Rio de Janeiro e em 2,5% das paulistas.

A professora Leonarda Musumeci, da coordenação do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, diz que o resultado da pesquisa também está ligado à percepção de que uma medida só não resolve o problema. "O Rio de Janeiro teve uma queda significativa no número de civis mortos pela polícia em 1999, quando o antropólogo Luiz Eduardo Soares era o secretário estadual de Segurança Pública, porque foram implementadas várias políticas de segurança", diz ela. Em Diadema, completa, a violência também diminuiu nos últimos anos devido a um conjunto integrado de medidas, como a lei seca e políticas preventivas.