Título: 'Não' usa a luta contra a ditadura
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Metrópole, p. C1,3

Favoráveis às armas mostraram cenas das Diretas Já para defender direitos; campanha do sim apostou em perguntas e respostas

No segundo dia de campanha em rádio e TV das frentes pela proibição ou não do comércio de armas de fogo no Brasil, o grupo que prega o direito à legítima defesa - e vota pelo "não" à proibição - lembrou de momentos históricos em que a população foi às ruas para lutar pelo direito à liberdade, como as manifestações contra a ditadura no Brasil e as Diretas Já. No entanto, o maior defensor da frente, o deputado federal Alberto Fraga, integra o PFL, partido que reúne políticos que, à época, apoiavam o governo militar. O argumento da campanha do "não" é de que a restrição ofende um direito adquirido. "Aqui no Brasil também foi preciso lutar para impedir que nos tirassem a liberdade. Havia uma ditadura, muitos direitos dos cidadãos foram suprimidos, o povo foi proibido até de votar. Mas a vontade popular foi mais forte", dizia o narrador enquanto apareciam imagens de brasileiros nas ruas gritando palavras de ordem diante de soldados do Exército.

A campanha pelo sim, por sua vez, repetiu o primeiro dia, com a atriz Maitê Proença e a apresentadora Angélica respondendo perguntas de cidadãos comuns. Um deles questiona se a proibição não atingirá somente as pessoas de bem. "No Brasil, há 15 milhões de armas na mão de civis. Se arma fosse sinônimo de segurança, viveríamos no paraíso", responde a apresentadora Angélica.

A edição contrária à proibição, apresentada pela jornalista Carmen Cestari, ainda mostra cenas de momentos de levantes pacíficos em todo o mundo como a história do líder anti-racista, Nelson Mandela, que lutou contra o Apartheid na África do Sul, e do homem que enfrentou sozinho tanques de guerra durante o massacre da Praça da Paz Celestial, na China. Assim, sugere uma relação entre o direito de portar armas ao direito à liberdade.

Apesar da chuva na manhã de ontem, cerca de 4 mil pessoas percorreram as principais ruas de Ermelino Matarazzo, a partir da Igreja São Francisco de Assis, em direção à Praça Benedito Ramos Rodrigues, no centro do bairro, na 7ª edição da Caminhada Pela Paz e contra a venda de armas de fogo.

Sob o comando do padre Ticão, que há 23 anos está no bairro, os fiéis seguiram empunhando faixas, balões e bandeiras com a pomba da paz. "Nos países onde há mais armas existem também mais mortes", diz o padre. "Essa é a principal força que estamos usando para tentar abrir os olhos da comunidade sobre o referendo do dia 23, quando votaremos contra a comercialização de armas."