Título: Mercado pet busca segmentação
Autor: Andrea Vialli, Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Economia & Negócios, p. B9

Para sobreviver em meio à concorrência, empresas têm de apelar para a criatividade e novos nichos

É um mercado volumoso, estimado em 42 milhões de consumidores. Destes, 25% usam produtos farmacêuticos e 37% se alimentam com comida industrializada. O investimento em publicidade voltada a esse público deverá fechar 2005 com um crescimento da ordem de 40%. Não, não estamos falando de humanos, mas de cães e gatos, que cada vez mais movimentam novos negócios. O Brasil já é o segundo país no mundo com maior população de animais domésticos, atrás apenas dos Estados Unidos. Os números do mercado de produtos e serviços pet crescem a uma média de 20% ao ano, desde 2000. Estima-se que sejam 10 mil pet shops em todo o País, 60% no Estado de São Paulo. E, para vencer nesse mercado tão disputado, a nova estratégia dos fabricantes é a segmentação.

Um dos exemplos é a Pet Society, especializada em cosmética animal e que surgiu no mercado há pouco mais de um ano. A empresa é uma divisão da Cosmotec, que produz ativos para o setor de cosméticos e produtos farmacêuticos, e fornece para grandes empresas como Natura, O Boticário e L'Oreal. Com a percepção de que havia um nicho carente de novidades - o de produtos voltados à estética e embelezamento animal - a empresa investiu R$ 2 milhões só na criação de uma linha específica para gatos, lançada há duas semanas. Antes disso, a empresa já havia lançado uma linha de produtos de beleza para cães, que já começa a ser exportada para países como EUA, Japão e França.

A aposta nos felinos não é a toa, uma vez que o mercado pet brasileiro ainda é pobre em produtos específicos para gatos. A linha que a empresa acaba de lançar inclui mais de uma dezena de xampus e condicionadores, além de musses perfumados, unhas postiças (conhecidas como "soft claws", evitam que os felinos arranhem os móveis) e até protetor solar. Outra aposta é na linha de bem-estar, que entre outros mimos traz ofurô em cedro rosa e cristais para um banho relaxante.

"Viemos para revolucionar e elevar o nível do mercado pet brasileiro, que ainda é imaturo mas está em rota de crescimento", diz Luciano Fagliari, vice-presidente executivo da Pet Society. O principal alvo da empresa são os pet shops, que também estão partindo para a estratégia de oferecer serviços diferenciados para se destacar da concorrência. "Queremos que nossa marca seja uma referência no mercado pet, por isso não fazemos nada com um apelo mais popular."

A crença da empresa no fortalecimento do mercado pet é tamanha que, para os próximos três anos, serão investidos mais R$ 5 milhões, que incluem a construção de uma nova fábrica, de 4 mil metros quadrados, em Guarulhos, prevista para ser inaugurada no segundo semestre de 2006.

ALIMENTAÇÃO

Para a fabricante de rações Royal Canin, multinacional francesa que está no País desde 1990, a segmentação é a melhor resposta para um mercado já disposto a pagar mais por qualidade. A marca tem uma linha com mais de 15 rações só para gatos, que contemplam atributos como beleza da pelagem, estilo de vida (se o animal sai ou fica o tempo todo em casa), idade (gatos maduros e idosos) e raças, como siameses e persas.

"No Brasil, os produtos para gatos ainda estão em expansão, conforme as cidades vão se verticalizando", explica Nelo Marraccini Neto, diretor-regional para São Paulo da empresa.

A Royal Canin, apesar de ter um enfoque muito mais técnico e não apostar em mídia agressiva, aproveitou o bom momento do setor para conquistar o filão de animais castrados e que ficam confinados nas residências. "Temos rações específicas para os animais que ganham peso ou têm problemas de cálculo urinário. Com a alimentação correta, o dono evita problemas e vê seu bicho saudável", diz.

De acordo com ele, ainda são poucos os lares brasileiros que dão alimentos industrializados para seus bichos, principalmente por causa da má distribuição de renda. "Existe ainda muito mercado a ser explorado neste setor. O consumo de rações avança nas cidades e já chega ao interior, onde o costume de dar comida caseira para os cães ainda é grande", explica Neto.

O diretor acredita que o mercado de rações premium agora cresce mais do que o de rações normais, o que significa até 25% de alta anual no caso da Royal Canin. "As pessoas que já davam ração estão descobrindo as vantagens de nossos produtos, e existe uma relação muito mais afetiva entre o cão e seu dono, o que o leva a investir mais no seu bicho de estimação", afirma.

O gasto médio anual do brasileiro com o seu animal fica em torno de R$ 390, entre alimentação, produtos veterinários, embelezamento e acessórios, segundo pesquisa realizada pela consultoria Euromonitor Internacional e publicada na revista holandesa Pet International Magazine. E mais: 63% dos brasileiros das classes A e B - portanto, com alto potencial de consumo - possuem animais de estimação.