Título: Despenca venda de máquina agrícola
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

De janeiro a agosto, movimento foi um dos mais fracos da história: caiu 34,7% em relação ao mesmo período de 2004

A indústria de máquinas e equipamentos para agricultura vive uma das piores crises da sua história, refletindo as dificuldades enfrentadas pelos produtores de grãos. Mesmo com os agricultores já preparando o plantio da próxima safra, o setor amarga uma queda de 34,7% nas vendas de janeiro a agosto, em comparação com igual período do ano passado. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o faturamento caiu de R$ 4,8 bilhões, em 2004, para R$ 3,1 bilhões, este ano. A queda na receita levou à redução no emprego. Desde o início do ano, os fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas já demitiram 4,2 mil trabalhadores, o equivalente a um corte de quase 10% no quadro de pessoal. As empresas que atuam no segmento empregam hoje 39 mil pessoas.

Para Rubens Dias de Morais, diretor de assuntos agrícolas da Abimaq, o desempenho ruim resulta em boa parte da descapitalização dos produtores de grãos. A rentabilidade das lavouras foi fortemente afetada por uma série de fatores, que incluem a quebra de safra, principalmente da soja no sul do País, provocada pela seca no início do ano, e a redução da produção de milho e trigo. Além disso, pesaram a desvalorização do dólar frente ao real e a queda das cotações internacionais, que empurrou para baixo os preços no mercado doméstico.

Um estudo da empresa de consultoria MB Associados indica que a receita agrícola de grãos não deve passar de R$ 57,4 bilhões este ano, ante R$ 76,1 bilhões em 2004 , o que representa uma queda de 19,8%. Para chegar a esses números, a consultoria cruzou dados das estimativas de safra do IBGE e da Conab com informações de preços do algodão (em caroço), soja, milho, trigo, arroz e feijão, entre outros.

"A dificuldade do produtor hoje é financiar a nova safra", diz o consultor José Carlos Hausknecht, da MB Associados. Segundo ele, a situação levou o agricultor a restringir ao mínimo o investimento em tecnologia e a postergar ao máximo a compra de insumos. Um exemplo é a venda de fertilizantes, que caiu 26% de janeiro a julho, em comparação a 2004.

"Trabalho com sistemas de irrigação mecanizada desde 1982 e nunca vi uma situação tão dramática", diz Eugênio Brunheroto, diretor-geral da Lindsay América do Sul. Segundo ele, as vendas internas desses equipamentos, que somaram 800 unidades em 2004, não devem chegar a 400.

A Lindsay deverá fechar 2005 com faturamento de R$ 35 milhões , uma queda de 30% em comparação com os R$ 50 milhões de 2004. Para piorar, a valorização do real levou a empresa a suspender as exportações do Brasil. Ficou mais barato abastecer clientes da América Latina com equipamentos feitos nos Estados Unidos.

Por causa da crise, a Jumil, que fabrica máquinas para plantio de grãos , cujo presidente é Rubens Dias de Morais, da Abimaq, decidiu adiar os planos de reunir suas duas unidades localizadas em Batatais numa única fábrica, o que exigiria investimentos de US$ 10 milhões. A idéia era inaugurar a nova fábrica em 2006, quando a empresa completará 70 anos. "Não temos previsão para o início das obras", diz Morais.