Título: Sílvio: direção do PT foi omissa
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. A4

Ninguém questionava origem de recursos, diz ex-secretário

BRASÍLIA - Secretário-geral do PT de maio de 2004 a julho de 2005 - quando deixou o partido por causa do escândalo do mensalão -, Sílvio José Pereira afirmou ontem que a direção nacional petista foi omissa ao não perguntar a origem do dinheiro para campanhas eleitorais. Silvinho, como é conhecido, se inclui na lista dos que têm "responsabilidade política" pela crise, embora diga que a "tese"do mensalão não se confirmou. "A direção nacional falhou por ausência maior de controle. Na época em que eram apresentados os balancetes, quando se falava em dívidas, ninguém questionava." Segundo ele, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, tinha "controle absoluto" sobre a arrecadação dos recursos. "Em 2003, fizemos seminários nos 26 Estados e a direção nacional sabia que não tínhamos como mandar dinheiro. Mas ninguém discutia se ia captar recursos no banco A, B ou C", disse. "Tínhamos uma relação de confiança."

Apesar de insistir que a "forma" de arrecadação cabia ao tesoureiro, o ex-secretário disse que nenhum integrante da Executiva do partido pode se eximir de responsabilidade. "Há um senso comum de que há caixa 2 em campanhas eleitorais, mas em nenhum momento se falou sobre caixa 2, sobre dinheiro não contabilizado."

Suas afirmações vão na mesma linha da declaração do ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP), que presidiu o PT de 1995 a 2002 e admite ter "responsabilidade política" pela crise. Ligado a Dirceu - que coordenou a campanha de Lula em 2002 -, Silvinho contou que as decisões políticas do PT eram coletivas, mas repetiu que cada um cuidava de suas tarefas. "Não tenho nem mais nem menos responsabilidade que os outros", destacou. Mesmo assim, isentou Dirceu, que "não era da direção do PT em 2003" e Lula, que "não se envolvia com o partido".

Dizendo ter sofrido muito com a crise, ele devolveu há uma semana a Land Rover que ganhou do dono da GDK, César Oliveira. "Não pratiquei tráfico de influência", garante. À Receita Federal, encaminhou, na semana passada, todas as informações pedidas sobre seu patrimônio. "Não tem dinheiro de caixa 2 na minha conta. Tenho a consciência tranqüila."