Título: CPI aposta em depoimento de doleiro para recuperar fôlego
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. A4

Depõe na quarta-feira Dario Messer, acusado de ser o doleiro do PT e ter negociado R$ 7 milhões para o partido em 2003

BRASÍLIA - Preocupados em mostrar que não estão parados, os integrantes da CPI dos Correios vão agora concentrar as investigações na busca da origem dos recursos que abasteceram o esquema coordenado pelo empresário Marcos Valério. Na quarta-feira deve depor o doleiro Dario Messer - acusado pelo doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, de ser o doleiro do PT e ter negociado R$ 7 milhões para o partido em 2003. Na avaliação de membros da CPI, o depoimento de Messer pode ajudar a identificar datas e volumes de dinheiro enviado ao exterior, pois seria o responsável pelas remessas. A CPI já tem várias evidências contra a versão de que Valério financiou o PT com empréstimos dos Bancos BMG e Rural. A avaliação é de que esses empréstimos jamais seriam pagos pelo partido e Valério possivelmente os quitaria com recursos de empresas privadas e estatais e até com dinheiro que estava irregularmente no exterior.

As informações de Messer podem servir para mapear ramificações do valerioduto no exterior, já que pode dizer quando fez remessas, de quanto foram e para onde. Com base nessas informações, avalia a CPI, pode-se chegar à origem do dinheiro.

Outros dois doleiros devem ser ouvidos esta semana: Haroldo Bicalho e Jader Kalid Antonio. "Se contribuírem, a gente pode ter informações preciosas, como datas e nomes de corretoras. Nunca há conexão direta, mas já joga luz sobre quem fez as remessas e tem de explicar a origem do dinheiro", disse o sub-relator da CPI deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

As datas dos depoimentos da semana ainda precisam ser aprovadas na reunião de amanhã. Entre eles estão os de ex-diretores e franqueados dos Correios, dos ex-presidentes do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) Lídio Duarte e Henrique Brandão e do procurador da Fazenda Nacional Glênio Guedes.

Apesar de avaliar que a CPI avança do ponto de vista técnico, Fruet se preocupa com o lado político. "Na dimensão política há intrigas, tentativa de esfriamento e saturação da CPI. É preciso tomar cuidado para que a questão política não prejudique a parte técnica." Nas últimas semanas, a CPI teve dificuldade para reunir quórum. A redução no ritmo do trabalho coincidiu com a ausência de seu presidente, senador Delcídio Amaral PT-MS), que foi a seu Estado resolver questões políticas.

Delcídio rebate críticas a respeito. "Não se pode imputar ao presidente, ao vice ou ao relator a não votação de um requerimento por falta de quórum. Isso ocorre, única e exclusivamente, por causa de manobras regimentais legais, utilizadas não só por parlamentares do governo, mas também da oposição."

Para ele, "a CPI saiu da fase do Ibope para se debruçar sobre dados que podem produzir" resultados. "É compreensível que, entrando numa fase investigativa, se reduzam os holofotes. Nosso esforço agora está focado no cruzamento das informações, que ocorre nos escritórios de coordenação da CPI, por seus técnicos", disse. "O povo está cansado dos longos depoimentos em que os deputados ficam falando para depois usarem as imagens em suas bases. O povo quer resultado e é isso que estamos produzindo."