Título: 'Correios precisam de uma gestão técnica'
Autor: Beatriz Abreu
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. 4

Presidente interino da estatal, onde se iniciou escândalo de corrupção, defende diretoria 'puro-sangue' e ética

BRASÍLIA - A despeito das pressões pela saída da nova diretoria dos Correios, o presidente interino, Janio Cezar Pohren, defende uma administração profissionalizada, exercida por empregados "puros-sangues" capazes de tirar a empresa do lamaçal de denúncias em que entrou há quatro meses e meio - quando se tornou público que um de seus funcionários, Maurício Marinho, foi flagrado recebendo propina. "Marinho não é modelo de empregado da empresa", afirma Pohren. "Queremos ter a oportunidade de mostrar que uma gestão técnica, da casa, pode desempenhar bem suas funções." O fantasma da nomeação política, no entanto, ainda não foi eliminado. Na semana passada, surgiram novas tentativas de destituição de diretores, depois que Marinho, em outro depoimento na CPI, lançou dúvidas sobre a permanência do atual diretor comercial, José Otaviano Pereira, sugerindo sua amizade com o secretário de Núcleos Estratégicos, Luiz Guishiken. Janio diz confiar na informação que recebeu da assessoria do ministro das Comunicações, Hélio Costa, de que não há decisão de substituir a atual diretoria da estatal. O relatório parcial da CPI dos Correios confirma o superfaturamento de R$ 64 milhões na contratação da Skymaster, empresa que presta o serviço do correio noturno.

Estamos acompanhando as investigações pela CPI e realizando 15 sindicâncias internas. No caso da Skymaster, estamos na fase de análise. Há uma complexidade e pouco entendimento da estrutura de custo do setor, o que dificulta definir se o serviço está ou não superfaturado.

O que se pode fazer para evitar superfaturamento de serviços?

Estamos revendo licitações e sistemas de gestão de contratos. Redefinimos o modelo de cálculo de preço de referência e ampliamos o uso do pregão eletrônico, que atualmente já atende a 80% das licitações. A partir de agora, todas as reuniões com fornecedores são registradas e contam com a participação de técnicos especializados.

A empresa estava submersa em casos de corrupção?

Em absoluto. Faz parte da cultura da empresa a disciplina, a rigidez em termos de procedimentos. Mas pode haver desvios numa empresa com 108 mil empregados. Temos 3 mil contratos por ano. É uma empresa de grande porte. A ECT vai faturar este ano mais de R$ 8,5 bilhões, um aumento de 9% em relação ao ano passado, e está presente nos 5.560 municípios com 95% de índice de eficiência.

A corrupção na empresa foi circunstancial, não é sistêmica?

Foi um problema localizado. Hoje estamos numa situação em que temos uma diretoria técnica que está tendo a oportunidade de reforçar a estrutura e fazer com que a empresa saia da crise mais fortalecida do que entrou. É o nosso desafio.

A CGU e o TCU estão exagerando nas críticas à empresa?

Esses processos precisam ser concluídos. Trata-se de uma empresa séria. A situação de Marinho é uma exceção. Não é a regra. A população já diferencia isso. A população não deixou de confiar nos Correios. Este ano a empresa vai crescer 10% em seu tráfego.

O senhor está convencido de que Valério utilizava os contratos de publicidade das estatais para alavancar empréstimos bancários?

No caso dos Correios, foi essa a constatação.

Os cargos de diretorias da empresa sempre foram submetidos às injunções políticas. Por que seria diferente agora?

Essa é uma decisão do governo. Estamos fazendo uma reflexão interna e o governo também. O caminho que está sendo buscando é o da profissionalização.

Mas Maurício Marinho também era funcionário de carreira.

Era. Mas ele não representa o modelo de empregado da empresa, que quer ter empregados técnicos, éticos.

A diretoria atual é puro-sangue, todos são de carreira?

Totalmente puro-sangue. Foi escolhida exatamente pelo seu histórico profissional. Entrei na empresa em 1982 e passei por várias áreas. É uma diretoria técnica que tem reconhecimento da casa. Queremos ter a oportunidade de mostrar que uma gestão técnica pode desempenhar bem suas funções.

Por que essa diretoria interina não foi efetivada?

Estamos como interinos, trabalhando para ajudar a empresa a passar por esse período. Que seja eterno enquanto dure!