Título: Lula busca partidos por agenda no Congresso
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. A5

Ministro Jaques Wagner diz que vitória de Aldo vai recompor base governista

BRASÍLIA - Depois de ter se empenhado pela candidatura vitoriosa de Aldo Rebelo (PC do B-SP) à presidência da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer se reaproximar dos partidos. Está convencido de que a crise arrefeceu e pretende que o Congresso retome as votações, deixando as investigações das comissões parlamentares de inquérito (CPIs) em segundo plano. Nessa nova fase, o primeiro partido chamado para uma reunião será justamente o PT, em encontro previsto para sexta-feira no Palácio do Planalto. PMDB e PSB também serão abordados. E o governo quer atrair o PDT ¿ que estava na oposição, mas em certa medida acabou sendo cooptado na reta final da eleição na Câmara, dando votos a Aldo, apesar de ter sido um dos partidos que lançaram a candidatura do deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL).

¿Passados alguns dias da vitória de Aldo, o governo tem de aproveitar para consolidar a base e buscar diálogo com a oposição, restabelecendo uma relação de normalidade com o Congresso¿, disse o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner. ¿Não dá mais para ficar nesta guerra sem fim entre governo e oposição e é melhor para os dois que os trabalhos sejam retomados, com cada um desempenhando seu papel.¿

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a idéia é discutir as propostas que o Planalto acha prioritárias hoje e na terça-feira, na reunião de líderes, apresentá-las e tentar chegar a uma pauta de consenso. Uma prioridade do governo é a Medida Provisória 258, que cria a Super Receita. ¿O presidente Lula está tranqüilo e a expectativa dele é que as matérias importantes comecem a ser votadas, a partir de uma pauta¿, contou Chinaglia.

O Planalto avalia que, com a vitória de Aldo e a calmaria nas CPIs, pode reorganizar a base de olho em 2006. Auxiliares de Lula negam estar preocupados com as eleições, mas o fato é que ele se sente fortalecido e acredita que pode respirar com mais folga nos próximos meses, trabalhando na reaglutinação dos partidos que o apóiam, viajando e fazendo política.

A partir de agora, com o fim do prazo para mudanças de partidos, os articuladores do governo acham que vai ser possível saber exatamente com que base o Planalto pode contar. Daí a importância de reiniciar os contatos com os partidos aliados e também com a oposição.

BANCADAS

O troca-troca de partidos não foi assunto que ocupou o tempo de Lula, embora ele se tenha empenhado em casos isolados, como o do senador Delcídio Amaral (MS), presidente da CPI dos Correios, que ameaçava trocar o PT pelo PSDB. O presidente chamou Delcídio ao Planalto e o convenceu a não sair do PT.

Lula não acompanhou as filiações e desfiliações, mas ficou satisfeito ao saber que o PT manteve a maior bancada na Câmara. A avaliação do Planalto é que a base não encolheu e agora o trabalho de reaglutinação ficará mais fácil. No caso do PMDB, com o segundo maior número de deputados na Câmara, o governo quer estabelecer a relação ¿mais institucional possível¿, apesar de o partido ser sempre uma fonte de preocupação por ter diversas correntes. Daí a importância das conversas que estão sendo agendadas. E é dentro desta estratégia que Lula quer se reaproximar do PDT. O governo acha interessante o crescimento do partido e vai insistir nas conversações. ¿Acho que tem espaço¿, avaliou Wagner.