Título: Campanha de Maluf em 98 foi paga com dinheiro no exterior, diz doleiro
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2005, Nacional, p. A8

Ao depor na Justiça, Birigüi contou que os US$ 161 milhões depositados em Nova York eram de ex-prefeito e 'viraram santinho'

Os US$ 161 milhões da conta Chanani "viraram santinho, foram gastos na eleição de 1998". A revelação é do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, maior acusador do ex-prefeito Paulo Maluf, recolhido à prisão federal em São Paulo há 24 dias sob acusação de evasão fiscal, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha. Em 1998, menos de dois anos depois de concluir sua gestão na Prefeitura de São Paulo, Maluf foi candidato ao governo do Estado e perdeu para Mário Covas (PSDB). A afirmação sobre o dinheiro que teria financiado a campanha de Maluf foi feita por Birigüi à Justiça Federal, que o interrogou no último dia 22. O juiz Paulo Alberto Sarno quis saber o destino do dinheiro da Chanani, conta no Safra National Bank de Nova York que ele, Birigüi, abriu em 1997.

O doleiro é uma mistura de réu e testemunha no processo que levou Maluf para a Custódia da Polícia Federal. A Procuradoria da República o acusa por lavagem e formação de quadrilha, mas ao mesmo tempo pediu à Justiça que lhe conceda o benefício da delação premiada, já que ele está colaborando com as investigações porque afirmou que o dinheiro da Chanani era de Maluf e do filho mais velho dele, Flávio.

O relato do homem que mandou os Maluf para a prisão preenche 16 páginas. Ele disse que Flávio era o operador das quantias no exterior depositadas na Chanani. Contou que Flávio o procurou para pedir-lhe que "entrasse mudo e saísse calado" da audiência na PF. Mas isentou o ex-prefeito. "Eu nunca tive contato com o sr. Paulo Maluf", declarou Birigüi.

Destacou que, em 1998, fez 7 pagamentos - US$ 840 mil cada parcela - para a conta 'eleven' no Citibank de Nova York . "Esses pagamentos eram para o Duda Mendonça (marqueteiro de campanha de Maluf)", disse.

"A conta foi aberta em outubro de 1997, os recursos começaram a entrar em novembro", depôs o doleiro. "Até dezembro de 1997, a Chanani não recebeu volumosos recursos, mas a partir de janeiro de 1998, até novembro, os recursos aumentaram muito. Coincidentemente, com o término do segundo turno das eleições os recursos diminuíram novamente." A Chanani foi fechada naquele ano.

Birigüi admitiu que recebeu 0,2% (cerca de US$ 400 mil) de comissão. "A conta era minha." Diante do procurador Rodrigo de Grandis, o juiz Sarno perguntou ao doleiro quem seriam os beneficiários da Chanani, em caso de sua morte. "Os principais beneficiários eram minhas filhas", confessou Birigüi.