Título: Consumidor recupera confiança
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Após três meses de queda, a confiança do consumidor brasileiro voltou a crescer em setembro, mesmo com a continuidade da crise política. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que divulgou ontem a 22ª Sondagem das Expectativas do Consumidor, o brasileiro agora entende que a economia não está sendo prejudicada pela turbulência política e aposta na melhoria na situação da economia do País e de sua família. "Realmente, pela avaliação do consumidor, parece que a economia está com uma certa blindagem contra a crise política", comentou o economista da FGV, Aluísio Campelo.

A FGV entrevistou 1.451 chefes de família entre 2 e 22 de setembro. Segundo Campelo, os resultados mostravam, em junho, julho e agosto, uma queda na confiança como resultado, basicamente, da crise política. "Parece que em setembro a crise política não está interferindo tanto na confiança do consumidor como nos últimos meses."

No levantamento, aumentou de 9,5% para 12,2%, de agosto para setembro, a parcela dos que consideram a situação econômica do País melhor do que há seis meses. Ao comentar o resultado, Campelo observou que a evolução da economia dos últimos meses desacelerou, mas "suavemente".

Para Campelo, a atual sondagem mostra que a análise do consumidor, agora, é que a economia "não estava no fundo do poço", mesmo quando apresentou sinais de desaquecimento. Ele admitiu que as últimas divulgações do Produto Interno Bruto (PIB) - crescimento de 3,3% no semestre passado, podem ter animado o consumidor.

O otimismo também englobou a percepção sobre sua própria situação familiar. De acordo com a FGV, subiu de 15,2% para 16,7% de agosto para setembro a parcela dos que acreditam em situação econômica familiar melhor hoje do que há seis meses.

As perspectivas do consumidor também melhoraram: subiu de 25,6% para 29,8%, de agosto para setembro, a parcela de entrevistados que acredita em melhora na situação econômica do País nos próximos seis meses.

Para o segundo semestre, Campelo considerou que as perspectivas são favoráveis por vários motivos, incluindo o aquecimento do mercado interno nos últimos meses do ano e o impacto da recente redução na taxa básica de juros (Selic).

"Um fator que continuará influenciando a confiança é a crise política. Mas, à medida que for se solucionando, pode ser que a confiança cresça mais rapidamento."

Nem todas os resultados foram bons na sondagem. A instituição detectou aumento do endividamento do consumidor e a intenção de gastar menos com bens caros. Isso pode estar apontando perda de fôlego no fenômeno de expansão de crédito, na avaliação de Campelo.

"Houve uma explosão no País, nos últimos 24 meses, da oferta de crédito, com crédito consignado, crédito à aposentados. Pode ser que esteja perdendo a força o impacto de todas essas novas modalidades de crédito."

Para Campelo, o indicador de inadimplência calculado pelo Banco Central pode estar à beira de uma seqüência de altas, após um período de queda em meados do ano. Ele explica que o endividamento está acelerando desde julho.

O resultado mais recente do BC sobre inadimplência é referente a julho, mas o indicador de endividamento calculado pela FGV já chega até setembro.

"Notamos este ano uma correlação muito grande entre nosso indicador de endividamento e o de inadimplência do BC. Se essa correlação se repetir, podemos dizer que o indicador de inadimplência vai aumentar, já que o endividamento está aumentando", afirmou.

Ele comentou, porém, que não dá para considerar o crescimento da inadimplência uma tendência. "É um quadro que pode mudar, tendo em vista a redução de juros e a recuperação do otimismo do consumidor em setembro", afirmou.