Título: Bancos têm dinheiro de sobra para empréstimos
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. B6

Está sobrando dinheiro nos bancos para emprestar. No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o orçamento deste ano é de R$ 60,8 bilhões, mas até o mês passado menos da metade tinha sido desembolsado e a perspectiva é de que as liberações fiquem em R$ 50 bilhões, ainda assim 25% superiores ao ano passado. A Caixa Econômica Federal está promovendo Feirões de Imóveis para tentar usar o máximo de sua disponibilidade de mais de R$ 10 bilhões para financiamentos imobiliários. Dos R$ 11,2 bilhões do orçamento deste ano do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para habitação de baixa renda e saneamento, foram usados em agosto apenas R$ 2,9 bilhões, segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Construção Civil do Rio de Janeiro, Roberto Kauffmann.

Mesmo nos bancos privados, há mais dinheiro disponível que demanda. "Os bancos podiam emprestar três vezes mais", disse ao Estado o economista-chefe da Federação Brasileira das Associações de Bancos, Roberto Luís Troster. O crédito no Brasil corresponde a apenas 28% do Produto Interno Bruto (PIB), o que é pouco em relação a outros países.

Embora restrições fiscais para operações com o setor público e o metas ambiciosas dos bancos estatais influam na sobra de oferta de crédito, o motivo principal é o custo para o tomador.

"Estão sobrando recursos, mas a culpa não é dos bancos", diz Troster. De acordo com ele, a causa do custo alto resulta das condições que influem na taxa final, como os depósitos compulsórios no Banco Central, os tributos sobre as operações e o quadro institucional, ainda com dificuldades de execuções de garantias.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, diz que os altos lucros de grandes empresas nos dois últimos anos aumentaram a parcela de recursos próprios nos investimentos. Além disso, elas têm acesso a fontes de recursos com custos mais baixos no exterior, inclusive no mercado de capitais.

As grandes companhias têm obtido recursos também no mercado interno. A emissão de bônus no exterior em reais pela União este mês abriu caminho para que elas também tenham essa alternativa. Isso aumenta a oferta de crédito, já que a forte concentração de renda é uma das características do País e para tomar crédito é preciso capacidade de pagá-lo.

O BNDES, que deverá ter sobra de cerca de R$ 10 bilhões no orçamento este ano, reconhece que o custo real dos financiamentos aumentou nos últimos meses. Isso porque a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) permanece fixa e a inflação baixou.

No caso dos financiamentos habitacionais por carteira hipotecária, com juros de mais de 12% ao ano mais TR, Kauffmann diz que "é inviável, é um desserviço que a Caixa presta ao tomador".