Título: Choro e luto no último pregão viva-voz da Bovespa
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. B10

O operador Luiz Sposito não resistiu, caiu em lágrimas ontem ao ouvir, às 16h45, a sineta que encerrou o último pregão viva-voz da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Durante a semana, Sposito dizia que seria um dia feliz o do último pregão, depois de 38 anos atuando como operador, porque deixaria a bolsa para a aposentadoria, em direção à cidade de Atibaia (SP). "Não deu. Nunca vi tanto homem chorando, estava pior do que velório", disse, antes de pegar o ônibus para "o paraíso", como chama a pequena cidade onde vai morar a partir de agora. E se Sposito chorou, alguns dos 53 operadores que ainda atuavam nessas operações decididas no berro, colaram tarjas pretas, de luto, no crachá com o número que os identifica. "É duro porque alguns, deixam a Bolsa para o desemprego", diz Sposito, um dos poucos a se dispor a conversar com jornalistas. Outros, como Claudio Molina, da corretora Link, de tão emocionados, desconversavam. Choro maior foi quando desligaram os potentes telefones de lances de compra e venda de ações.

Agora, o imenso pregão, será transformado em um espaço de memória, no qual a Bovespa investirá R$ 2,5 milhões para abrir à visitação no dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo. Depois de 115 anos de atuação, desde que Emílio Rangel Pestana criou a Bolsa, o pregão perdeu a voz, mas ganhou um volume maior de operações.

O viva-voz perdeu a vez para a tecnologia, que transformará o espaço num centro interativo da memória, com projeções em três dimensões e uma mesa de operações eletrônicas, que selaram o fim da gritaria dos operadores da bolsa.

Ao tocar o sino de encerramento do pregão, o Ibovespa, principal índice da Bovespa, encerrava o dia com 31.583 pontos, alcançando a máxima histórica pela sexta vez no mês de setembro, com uma alta de 1,20%. O volume negociado chegou a R$ 1,729 bilhões. Os operadores do viva-voz responderam por quase 1% dos negócios.

Desde que o sistema Home Broker, que permite a compra e a venda de ações pelas corretoras via internet, entrou em operação, em 1999, os operadores começaram a perder espaço. Foram 1,5 mil, até chegar aos 53 que ontem encerraram suas atividades. "Não posso mentir, vou sentir falta da gritaria, da correria, mas o fim já estava anunciado", disse Sposito.