Título: Rio Grande do Norte vai obstruir Petrobrás
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. B11

A escolha de Pernambuco como sede da nova refinaria da Petrobrás não encerrou a disputa política em torno do empreendimento. O governo do Rio Grande do Norte, um dos principais candidatos, anunciou que obstruirá empreendimentos da estatal no Estado e quer compensações por ter sido preterido. "Parece que é a única linguagem que a Petrobrás entende: a adoção de medidas duras", disse o secretário de Desenvolvimento, Wagner Araújo. A primeira obra prejudicada é a de um gasoduto ligando as reservas do Estado à Usina Siderúrgica do Ceará (USC). Na quarta-feira, a Petrobrás se comprometeu a fornecer 1,65 milhão de metros cúbicos de gás por dia à usina, projeto de US$ 750 milhões da Companhia Vale do Rio Doce, em parceria com a sul-coreana Dongkuk e a italiana Danieli Steel. Para isso, precisa ampliar a capacidade de transporte de gás na região, construindo um ramal de 293 quilômetros entre Guamaré (RN) e Pecém (CE).

Araújo diz que o governo tem o apoio da Assembléia Legislativa estadual para impedir o projeto. A situação lembra o embate entre o governo do Rio e a estatal, há 2 anos, por causa do oleoduto entre a Bacia de Campos e São Paulo. Na época, a governadora Rosinha Garotinho alterou a lei ambiental do Estado e inviabilizou o projeto.

Já naquela ocasião, a refinaria estava no centro da polêmica: Rosinha acreditava que o oleoduto reduziria as chances do Rio na briga pelo projeto de US$ 2,5 bilhões, que era disputado por 10 Estados. Depois da crise do oleoduto, o Rio ganhou como compensação a Unidade Petroquímica Básica, obra ainda maior, de US$ 3,5 bilhões.

No que depender do governo potiguar, este novo capítulo da novela da refinaria terá fim semelhante: entre as compensações propostas estão a construção de um pólo gás-químico, para a produção de PVC a partir do gás e do sal produzidos no Estado, e de uma unidade produtora de gasolina - o Rio Grande do Norte já produz diesel, querosene de aviação e gás de cozinha no pólo de Guamaré.

"Acho que podemos chegar a um consenso", afirmou o diretor de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. A estatal e o governo estadual constituíram um grupo de trabalho, que terá 90 dias para avaliar os projetos.

Costa informou que técnicos da Petrobrás e da PDVSA iniciam agora o detalhamento do projeto da refinaria de Pernambuco. Esse processo deve demorar cerca de um ano e meio, até que os sócios decidam por iniciar as obras, o que deve ocorrer só em 2007.

Segundo o projeto preliminar, a unidade terá capacidade para processar 200 mil barris de petróleo por dia e vai produzir, principalmente, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP), o gás de cozinha. Atualmente, o Brasil é importador desses dois produtos.