Título: Diretoria indicada por Dantas é demitida da BrT
Autor: Gerusa Marques e Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2005, Economia & Negócios, p. B14

A diretoria da Brasil Telecom (BrT), indicada pelo grupo Opportunity, de Daniel Dantas, foi destituída ontem do comando da empresa, inclusive a presidente da operadora, Carla Cico. A destituição ocorre depois de seis meses de disputas e tentativas do grupo Opportunity de impedir a realização da assembléia que deu novo formato ao comando da BrT. A direção da companhia está agora nas mãos do Citigroup e dos fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ), da Petrobrás (Petros) e da Caixa Econômica Federal (Funcef). O novo conselho administrativo, aprovado ontem em assembléia dos acionistas, escolheu os novos diretores e o presidente eleito é Ricardo Knoepfelmacher. O diretor Francisco Aurélio Sampaio Santiago permaneceu na diretoria de tecnologia e redes. A companhia terá Charles Laganá Putz, ex-presidente da Telefônica Empresas e ex-diretor da Microlite, na liderança financeira. Luiz Francisco Perrone entra no cargo de diretor de Recursos Humanos, preservando a mesma estrutura da holding Brasil Telecom Participações.

A próxima disputa entre acionistas da operadora será sobre a venda da participação do Citigroup e fundos. O comprador natural é a Telecom Italia, também sócia na empresa, mas divergências entre a empresa italiana e os fundos emperraram as negociações, que correm em sigilo.

Mas, para o novo presidente do conselho de administração da operadora, Sérgio Spinelli, "daqui para frente a relação será muito boa". Ontem representantes da Telcom Italia participaram da escolha do novo conselho, numa clara demonstração de entendimento prévio entre os sócios. Ele disse que o poder de decisão não ficará centralizado no Citigroup e "passará pela pluralidade". O executivo negou haver alguma negociação em curso para vender a participação do Citi e dos fundos para a Telecom Italia. "O objetivo dos fundos de pensão e do Citigroup é poder alienar a companhia pela melhor oferta, no momento adequado", afirmou.

Knoepfelmacher acrescentou que, independentemente de futuras negociações para venda da empresa, a nova diretoria prentede transformar a Brasil Telecom na maior companhia de telecomunicações. "Se vão vender, e quando, é absolutamente irrelevante para a administração e para os executivos."

Os presidentes da Petros, Wagner Pinheiro, e da Funcef, Guilherme Lacerda, também garantiram que o objetivo é vender, no prazo mais curto possível e em conjunto, suas participações na empresa. Pinheiro disse que a Telecom Italia é o parceiro natural dos fundos e do Citigroup, inclusive no que diz respeito a uma futura alienação. "Estamos alinhados com eles e é natural que o grupo, na condição de acionista, tenha interesse em adquirir a empresa", observou.

Pinheiro também garantiu que os fundos de pensão nunca cogitaram a venda da BrT para a Telemar, outra empresa de telefonia fixa com presença em 16 Estados.

"Nós nunca levamos essa possibilidade em consideração. Primeiro, porque a legislação não permite e depois porque nunca fomos consultados sobre isso", ponderou. A Lei Geral de Telecomunicações impede a fusão de concessionárias.

O presidente da Funcef disse que o fim da disputa societária com o Opportunity beneficiará todo o mercado. Segundo Lacerda, o problema na administração da BrT era emblemático e trazia insegurança aos investidores.

"A disputa societária foi muito ruim porque criou um clima de dúvidas e inibiu investimentos. A Brasil Telecom é uma referência nacional e não podia mais permanecer no centro desse embate", ponderou.

Apesar dos inúmeros embates travados com o Opportunity, a nova diretoria diz que não pretende perseguir os antigos diretores. "Não temos sanha persecutória. Não queremos buscar culpados. Faremos uma administração com ética e transparência, mas qualquer irregularidade será apurada", afirmou Knoepfelmacher. A diretoria eleita vai estudar a possibilidade de auditar os atos da gestão passada. A suspeita a que se refere o novo dirigente está relacionada à denuncia de que a ex-presidente da BrT, Carla Cico, teria contrado a empresa Kroll para espionar a Telecom Itália e integrantes do governo.

A avaliação dos executivos é de que a Brasil Telecom, operacionalmente, está muito bem e que não haverá prejuízo para o consumidor. "Nosso objetivo maior é garantir a qualidade dos serviços e o curso dos negócios." A Brasil Telecom, que opera nas regiões Sul, Centro-Oeste e parte da Norte, tem 10 milhões de clientes do serviço de telefonia fixa.

A operação da telefonia celular e o incremento da banda larga são questões estratégicas da nova administração, que considera esses dois pontos como os motores de crescimento da empresa, uma vez que as concessionárias de telefonia fixa vêm perdendo mercado nas ligações convencionais.