Título: NY dará bônus a padre que parar de fumar
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Vida&, p. A38

No papado de João Paulo II, a questão mal podia ser discutida. Mas a profunda falta de padres católicos dominou o primeiro encontro de bispos no novo papado, de Bento XVI. A discussão foi feita com uma abertura e urgência que o Vaticano não via há anos. Desde a abertura do sínodo, na segunda-feira, os bispos levantaram questões delicadas e raramente postas em discussão: permitir ou não que católicos divorciados se casem sem anular o casamento anterior e se católicos podem votar em políticos favoráveis ao aborto ou à eutanásia.

"O celibato não tem fundamento teológico", disse Gregorios III Laham, que compareceu ao sínodo como patriarca dos católicos melquitas, igreja ritual oriental. Em uma das primeiras sessões, ele teria dito: "Padres casados devem ser admitidos".

Depois dessa bomba, o Vaticano reduziu os detalhes fornecidos para os repórteres sobre as conversações entre os 256 bispos.

Uma discussão mais ampla foi encorajada pelo próprio Bento XVI. Mas se os tabus estão sendo cuidadosamente derrubados neste primeiro sínodo, especialistas na Igreja alertam que são pequenas as chances de que a política sobre tradições como o celibato seja mudada tão cedo.

Em primeiro lugar, os sínodos são apenas consultivos. Até agora, também, houve poucas discussões sobre possíveis soluções. O cardeal Joseph Ratzinger sempre permitiu debates internos em sua época de doutrinador. Mas de acordo com os especialistas, no final, suas decisões costumavam refletir alguns dos pensamentos mais conservadores da Igreja.

"Este papa é muito astuto e acho que ele pode surpreender", diz E. John Kinkel, ex-padre americano cujo livro, Caos na Igreja Católica, discute a falta de padres. "É como a Suprema Corte americana. Coloca-se alguém lá e talvez ele faça algo que não se pode prever."

PRÊMIO: A Arquidiocese de Nova York está oferecendo um bônus de US$ 500 para padres que pararem de fumar ou que perderem peso. A iniciativa, inédita na comunidade católica, tenta reverter o processo de redução do número de párocos nas igrejas americanas. Isso porque os padres antigos estão morrendo antes de serem substituídos.

Segundo a responsável pelo programa de saúde da arquidiocese, irmã Monica Walsh, o direito à gratificação dependerá, no caso dos gordinhos, de quantos quilos emagrecerem. Os padres devem provar que, em um ano, perderam 10 pontos no índice de massa corpórea. Exemplo: um homem de 1,75 metro e 108 quilos deve emagrecer pelo menos 31 quilos. Já os fumantes devem comprovar que não fumam há pelo menos um ano.

"Os padres, que recebem no máximo um salário de US$ 18 mil ao ano, precisam (do dinheiro)", diz irmã Walsh. Cerca de 500 deles já foram notificados.