Título: Sínodo católico discute a falta de padres
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Vida&, p. A38

No papado de João Paulo II, a questão mal podia ser discutida. Mas, na semana passada, a profunda falta de padres católicos dominou o primeiro encontro de bispos sob o novo papa, Bento XVI. A discussão foi feita com uma abertura e urgência que o Vaticano não via há anos. Desde a abertura do sínodo, na segunda-feira, os bispos levantaram questões delicadas e raramente postas em discussão: permitir ou não que católicos divorciados se casem sem anular o casamento anterior e se católicos podem votar em políticos favoráveis ao aborto ou à eutanásia.

¿O celibato não tem fundamento teológico¿, disse Gregorios III Laham, que compareceu ao sínodo como patriarca dos católicos melquitas, igreja ritual oriental. Em uma das primeiras sessões, ele teria dito: ¿Padres casados devem ser admitidos¿.

Depois dessa bomba, o Vaticano reduziu os detalhes fornecidos para os repórteres sobre as conversações entre os 256 bispos, que vieram discutir preocupações terrenas de todo mundo.

Uma discussão mais ampla foi encorajada pelo próprio Bento XVI. Mas se os tabus estão sendo cuidadosamente derrubados neste primeiro sínodo, especialistas na Igreja alertam que são pequenas as chances de que a política sobre tradições como o celibato seja mudada tão cedo. Em primeiro lugar, os sínodos são apenas consultivos.

Até agora, também, têm havido poucas discussões sobre possíveis soluções. O sínodo, porém, acontece até o dia 23. O cardeal Joseph Ratzinger sempre permitiu amplos debates internos em sua época de doutrinador, antes de se tornar Bento XVI, em abril. Mas de acordo com os especialistas, no final, suas decisões costumavam refletir alguns dos pensamentos mais conservadores da Igreja.

¿Uma coisa é ouvir e permitir conversas¿, afirma Lawrence A. Young, sociólogo americano que há 20 anos escreveu com Richard Schoenherr uma das primeiras análises sobre falta de padres. ¿Outra é mudar a opinião de alguém colocando frente a frente teologia e prática de igreja.¿

Outros não estão tão certos. Bento XVI, apontam, tem 78 anos. Ele próprio admite que pode não permanecer muito tempo na função e, por isso, deve se mobilizar mais rapidamente do que um papa jovem.

¿Este papa é muito astuto e acho que ele pode surpreender¿, diz E. John Kinkel, ex-padre americano cujo livro, Caos na Igreja Católica, discute a falta de padres. ¿É mais ou menos como a Suprema Corte americana. Coloca-se alguém lá e talvez ele faça algo que não se pode prever.¿