Título: Planalto intensifica pressão pela renúncia
Autor: Cida Fontes e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Nacional, p. A4

Cresce a pressão do Planalto pela renúncia dos deputados petistas acusados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escalou três emissários para tentar convencer seis parlamentares do PT a saírem de cena antes que o Conselho de Ética da Câmara abra os processos de cassação. Os encarregados da missão são os ministros das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e do Planejamento, Paulo Bernardo, e o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF). Lula tem divulgado, por meio de auxiliares, que é o principal interessado na renúncia dos petistas ameaçados de cassação. A avaliação é de que a saída ajudaria a esvaziar a crise. Em conversas a portas fechadas, Lula lembra o gesto do ex-presidente do PT José Genoino - que sumiu do noticiário após deixar o comando do partido.

O presidente quer evitar que o processo contra os petistas se arraste no Conselho, a exemplo do que ocorre com o deputado José Dirceu (PT-SP). Na reunião de ontem com a bancada, Lula disse que os petistas que se envolveram com o mensalão cometeram um grave erro.

Os emissários do Planalto têm frisado aos parlamentares as conseqüências jurídicas positivas da renúncia, como a garantia dos direitos políticos. Nesse acordo interno do PT, os diretórios regionais vão dar a garantia de que todos os que renunciarem terão a legenda para se candidatar no ano que vem.

O ex-líder do PT Paulo Rocha (PA), que - segundo o empresário Marcos Valério de Souza - recebeu mais de R$ 900 mil do esquema do ex-tesoureiro Delúbio Soares, abordou nos corredores da Câmara o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP). Pediu para ser avisado antes que o processo seja aberto. Ouviu a promessa de que será atendido.

O mesmo fez o deputado Josias Gomes de Souza (BA), que recebeu R$ 100 mil das contas de Marcos Valério. Rocha disse ontem que ainda não é a hora de pensar na renúncia e Josias Gomes afirmou que não vai abrir mão do mandato.

INELEGIBILIDADE

Se a renúncia ocorrer depois que o processo for aberto, os direitos políticos do acusado ficam suspensos por oito anos, contados do fim do mandato da atual legislatura, em fevereiro de 2007. Ou seja, o parlamentar só recupera a possibilidade de se candidatar em 2015.

Além de Paulo Rocha, Dirceu e Josias, são acusados pelas CPIs os deputados petistas João Magno (MG), João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP) e Professor Luizinho (SP), e mais nove parlamentares de outros partidos. Entre eles, o líder do PP, José Janene (PR), que avisou que não vai renunciar. Constam da lista o ex-líder do PMDB José Borba (PR) e Vadão Gomes (SP). Esses dois já estão com os ofícios da renúncia prontos. Deverão entregá-los à Mesa da Câmara por volta do dia 15, data prevista para a abertura dos processos no Conselho de Ética.