Título: Lula esquece 'traição' e declara solidariedade a petistas cassáveis
Autor: Cida Fontes e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Nacional, p. A4

A três dias da abertura do processo de cassação contra seis deputados do PT no Conselho de Ética, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou toda sua solidariedade aos "companheiros" no encontro de que teve, no Planalto, com 66 dos 83 integrantes da bancada petista na Câmara. "Vocês não são corruptos. Cometeram erros, mas não de corrupção", explicou, em tom amistoso, aparentemente esquecido de que há algumas semanas, na TV, pediu desculpas à Nação pelos escândalos que envolviam o PT e confessou: "Fui traído." Segundo participantes do encontro, Lula disse ainda que "é preciso ter mais solidariedade, pois todos são construtores do PT e não pessoas que podem nos contagiar com alguma doença." Em discurso de cerca de 40 minutos, Lula disse ter sofrido acusações injustas no passado. Ele contou que fica indignado com ataques dos adversários, que sempre cometeram "barbaridades", e só não entra na briga por recomendação de amigos. "Muitas acusações vêm de pessoas que não têm história de ética na vida. Temos de ter unidade para enfrentar os adversários, pois as disputas internas no PT fragilizam toda a base aliada."

O presidente explicou que a "solidariedade" não significa colocar "panos quentes" nas denúncias. Ele avaliou que os petistas citados no escândalo erraram ao não contar toda a verdade de uma vez, o que prolongou a crise. "Uma vez abordada, a pessoa tem de dizer tudo por inteiro e não em prestações", disse. "Ninguém aqui nesta sala foi mais acusado e bombardeado do que eu."

Antes de Lula, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) defendeu os sete petistas acusados, chamando-os de amigos. "Conheço bem quem são e sei que estão envolvidos pelo projeto de partido. Eles estão pagando um preço muito alto pelas práticas de irregularidades do PT."

Lula e Palocci usaram a palavra solidariedade após um discurso de Maurício Rands (PE), que fez uma defesa prévia dos colegas. Deputados da oposição do partido evitaram críticas. Os acusados, como José Dirceu (SP) e Paulo Rocha (SP), ouviram os discursos calados e em cadeiras afastadas da mesa em que estavam o presidente, Palocci e Dilma Rousseff, da Casa Civil.

O ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tentaram descaracterizar como político o gesto de solidariedade manifestado por Lula. "Seria forte dizer que o presidente prestou solidariedade política. Ele falou como companheiro de partido", afirmou Chinaglia. Segundo Wagner, foi um gesto humanitário. "Evidentemente que são pessoas com quem ele conviveu e que passam por dificuldades", disse. "O presidente deixou claro que precisamos ser solidários, mas também responsáveis nas apurações", completou Jorge Bittar (RJ).