Título: Berzoini defende legenda para cassáveis; Pont, não
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Nacional, p. A6

Finalistas da eleição presidencial do PT, Ricardo Berzoini e Raul Pont negaram ontem ter participado de qualquer acordo para garantir legenda, em 2006, aos seis deputados petistas que eventualmente renunciem ao mandato parlamentar para esfriar a crise política - manobra que foi revelada pelo Estado em sua edição de ontem. Os candidatos do Campo Majoritário e da Democracia Socialista, porém, assumiram lados opostos sobre como o partido deve investigar os petistas acusados no escândalo do mensalão e, principalmente, sobre como agir no caso de renúncia. Se depender de Berzoini, o partido não deve adotar "uma regra genérica, que possa suscitar injustiças". E insistiu em que o partido analise cada caso, pelo risco de os processos de cassação serem marcados pela "perseguição ao PT".

"Se alguém usar desse artifício para fugir a uma responsabilidade comprovada a um ilícito caracterizado no Congresso, não deve ter legenda", admitiu Berzoini. Logo em seguida, porém, criticou o processo de apuração "tumultuado" no Conselho de Ética. "Se a apuração no Congresso não tiver absoluta lisura, não creio que as pessoas tenham de se submeter a um processo político de cassação sem provas."

Durante debate promovido pela rádio CBN, Berzoini recusou inclusive a abertura de processo, na Comissão de Ética do PT, contra todos os investigados antes que o Congresso encerre os julgamentos. Hoje, os citados estão submetidos a uma sindicância, que deverá recomendar ou não a abertura de processo disciplinar interno.

Berzoini evitou pregar punição para quem fez uso de caixa 2. "Isso deve ser examinado dentro do partido, se é um critério suficiente para que possamos fazer processo de punição que signifique, por exemplo, a perda de legenda", declarou.

Pont é mais direto. Cobra a abertura de ações na Comissão de Ética da legenda - assim como a suspensão imediata dos direitos partidários - de todos os envolvidos, até que seja concluída a apuração. Defende, ainda, uma norma para impedir a concessão de legenda a qualquer parlamentar que renuncie.

"Continuarei defendendo essa posição, sem tirar dos companheiros o direito de defesa e do contraditório", afirmou Pont. E retomou a tese de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deve ser afastado até prestar contas das denúncias que pesam contra ele, como irregularidade na declaração de bens à Receita Federal.

ECONOMIA

Durante o debate, os candidatos do Campo Majoritário e da Democracia Socialista divergiram muito sobre os rumos da política econômica, o tom de defesa do governo e o programa para a reeleição de Lula.

"Sabemos que esse tipo de orientação (da política econômica) não segue os interesses nem nacionais, nem populares. Não entendo como essa política ditada pelos neoliberais possa vir a ser aceita pelo partido ou pelo País", disse Pont. Ele credita à política econômica grande parte da responsabilidade pela cisão interna do PT, que fica evidenciada, diz ele, pelo distanciamento dos movimentos sociais dos debates internos do PT.

Apesar de defender ajustes na política monetária, Berzoini voltou a usar o discurso de realizações do governo para justificar o apoio à política econômica. Ele citou a geração de empregos e a ampliação dos investimentos em habitação com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). "É uma política bem-sucedida e deve ser defendida pelo partido."

Berzoini cobrou também apoio incondicional ao governo e à reeleição de Lula. "Não existe 'incondicional' na política", reagiu Pont, depois de defender maior autonomia do partido. Berzoini também pregou a independência do PT, mas sem atitudes que possam criar constrangimento ou atrapalhar o governo federal.