Título: Gasolina dobra IPCA de setembro
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Economia e Negócios, p. B1

O reajuste nos preços da gasolina elevou a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para as metas de inflação do governo, para 0,35% em setembro, o dobro dos 0,17% registrados em agosto. O aumento de 3,36% na gasolina no varejo foi responsável por 40% da alta inflacionária, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apenas oito itens foram responsáveis por quase a totalidade (0,34 ponto porcentual) do índice no mês. A gerente do sistema de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacou a influência dos reajustes monitorados pelo governo sobre a inflação e o papel fundamental da baixa cotação do dólar na deflação dos produtos alimentícios. No ano, o IPCA acumula alta de 3,95%, a menor em nove meses desde 1998. Em 12 meses, a variação é de 6,04%.

Para Marcela Prada, da Tendências Consultoria, "apesar do aumento da taxa, o patamar ainda é muito baixo. A influência benéfica da apreciação cambial e dos alimentos diminuiu, mas ainda não cessou".

Além da gasolina, que contribuiu com 0,14 ponto porcentual na taxa de setembro, tiveram influência o álcool, empregados domésticos (ainda por causa do reajuste do salário mínimo, devido à metodologia do IBGE), água e esgoto, passagens aéreas, condomínio, automóveis usados e planos de saúde.

Segundo Eulina, exceto no caso dos automóveis usados, esses itens são monitorados pelo governo ou, caso de condomínios e empregados domésticos, reflexo dos preços monitorados. A variação do preço da gasolina poderá ser igual ou maior em outubro, diz ela. Por isso, o economista da Fecomércio-RJ, João Carlos Gomes, elevou a previsão do IPCA de outubro de 0,40% para 0,50%.

Em setembro, como a coleta de preços do IBGE foi encerrada dia 26, apenas 16 dias após o reajuste de 10% dos combustíveis nas refinarias, a pesquisa do instituto chegou a captar deflação do produto em Goiânia (4,15%), ou aumentos abaixo da média em Brasília (0,87%). Para Eulina, já devem estar ocorrendo reajustes maiores nesses locais. Em São Paulo, a alta nos postos de gasolina foi de 4,2%.

Para Eulina, "claramente o dólar é que está contribuindo para manter o IPCA nesse patamar (acumulado em 3,95% no ano)". Ela sublinhou que quatro deflações consecutivas dos alimentos, completadas em setembro (0,25%), não ocorriam desde 2000. O dólar baixo, diz Eulina, manteve o preço dos alimentos em desaceleração, mas os dados do IPCA de setembro mostram que "a deflação dos alimentos pode estar chegando ao fim, que houve uma reversão". Eulina vê essa perda de ritmo na queda dos alimentos como resultado de uma "amenização do efeito do dólar sobre os preços das commodities".

O período de deflação está terminando, diz Eulina, mas os alimentos poderão registrar este ano a menor inflação do real. No acumulado de janeiro a setembro deste ano, o grupo de produtos alimentícios acumulou alta de 0,55%. No decorrer de um ano inteiro, a menor inflação de preços dos alimentos no real ocorreu em 1997 (1,22%).