Título: Mercado internacional favorece faxina na dívida
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Economia e Negócios, p. B4

O governo está aproveitando as condições favoráveis de abundância de recursos no mercado internacional para fazer uma "faxina" na dívida externa. Em menos de três meses, retirou do mercado externo os C-Bonds, títulos emitidos pelo Brasil após a moratória dos anos 80. Eram o título externo mais conhecido do País, mas traziam a marca do calote. No mesmo período, o Tesouro captou US$ 2,5 bilhões emitindo papéis no mercado externo, dos quais cerca de US$ 1,5 bilhão em títulos em reais. Até o fim do próximo ano, o Tesouro Nacional vai quitar toda a sua dívida com o Clube de Paris, grupo que reúne os principais países credores do mundo, virando mais uma página na história da reestruturação da dívida externa nos anos 90. A expectativa do governo é de que essa melhora do perfil da dívida - seja pela eliminação dos vestígios do passado de crise, seja pela aceitação pelos investidores internacionais de papéis atrelados ao real - proporcione um upgrade na imagem do Brasil perante as agências de classificação de risco. "Nós estamos trabalhando para atingir o grau de investimento e não apenas um nível de melhora no rating, mas nós sabemos que esse é um projeto de mais longo prazo", disse ao Estado o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani.

Responsável pela administração da dívida externa do governo, Gragnani disse que no fim de 2006, último ano do governo Lula, as condições da dívida externa estarão muito mais favoráveis. "Esse ano foi superpositivo para a dívida externa", avaliou o secretário. Os próximos passos para a dívida estão sendo analisados pelo governo.

Pelos cálculos do Tesouro, ainda restam no mercado internacional US$ 7,8 bilhões de bradies, títulos que, como o C-Bond, foram emitidos na reestruturação da dívida externa. "Todas as operações que possam melhorar a qualidade e composição da dívida são estudadas", disse o secretário, ao comentar a possibilidade de o Tesouro fazer trocas de bradies, assim como fez com os US$ 4,5 bilhões de C-Bond que foram trocados por um novo título, o A-Bond, de prazo mais longo.

No dia 17, mais US$ 1,1 bilhão em C-Bonds serão recomprados pelo Tesouro, retirando o papel do mercado. Segundo Gragnani, os dólares para a operação já foram comprados no mercado à vista. Isso significa que não será necessário sacar recursos das reservas internacionais do País, como estava previsto inicialmente.

O secretário destacou também como um marco para a dívida externa a captação em reais que, segundo ele, alongou os prazos da dívida em títulos prefixados (em que a taxa de rendimento é acertada na hora em que o título é vendido). O papel prefixado mais longo da dívida interna, a NTN-F, tem vencimento em 2012 e o Global BRL (o bônus externo em reais) em 2016. A compra de prefixados com prazo longo demonstra que os investidores estão seguros quanto à rentabilidade. "Estamos criando uma curva de juros prefixada de longo prazo. Isso demonstra que tem demanda e absoluta confiança na política fiscal e monetária desenvolvida pelo governo no mercado interno e externo e traz uma oportunidade nova para o mercado."

O secretário revelou que a procura dos investimentos pelos novos papéis foi quase cinco vezes superior ao volume vendido de US$ 1,5 bilhão. Ele considerou natural o desempenho menos favorável do Global BLR no mercado secundário. "É um título novo. Os participantes ainda estão entendendo a melhor forma de negociar o título."

Além disso, disse, a volatilidade dos títulos do Tesouro dos EUA (treasuries) provocou uma queda generalizada nos mercados emergentes.