Título: Para FMI, juro básico tem condição de cair
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Economia e Negócios, p. B4

O Brasil tem condições de reduzir o juro básico, disse ontem o chefe da missão do Fundo Monetário Internacional, Charles Collyns. "A redução tem de ser feita de forma cautelosa para consolidar os progressos já feitos até aqui", disse, após reunir-se com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e encerrar sua visita de cinco dias ao País. Embora o Brasil não tenha mais um programa com o FMI, ele continua tendo suas contas monitoradas porque deve aproximadamente US$ 15,5 bilhões à instituição - valor acima da cota a que o País tem direito como sócio, que é de US$ 4,4 bilhões. O economista afirmou que a diminuição do juro será permitida pelo bom comportamento da inflação nos últimos meses. "A inflação está sob controle", disse. Para Collyns, os índices de preços têm convergido para os objetivos do Banco Central, que tem como objetivo uma inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,1% este ano. No Relatório de Inflação divulgado na semana passada, a estimativa do banco para a alta dos preços já está abaixo de 5,1%.

"O Banco Central está indo extremamente bem", afirmou Collyns. O chefe da missão enfatizou a firmeza com que o BC buscou a meta. Na primeira metade deste ano, havia projeções no mercado pelas quais o IPCA ficaria acima de 7%, ou seja, acima da margem de tolerância fixada na meta de inflação. A meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 4,5%, podendo ficar 2,5 pontos porcentuais acima ou abaixo. Dentro desse intervalo é que o BC escolheu seu objetivo de inflação de 5,1%.

Apesar dos ataques de integrantes do próprio governo ao que consideram uma excessiva valorização do real ante o dólar, Collyns aconselhou o governo a continuar sustentando o regime de livre flutuação do câmbio. "É apropriado que o governo continue a seguir sua política de câmbio flutuante", disse. Para ele, o BC deve aproveitar o momento de alta liquidez dos mercados e recompor as reservas internacionais.

E é o que o Brasil está fazendo. Desde segunda-feira, o BC fez várias intervenções no mercado. No primeiro semestre, a instituição comprou US$ 10,2 bilhões por esse meio. Collyns destacou que as exportações brasileiras continuam fortes, apesar das queixas quanto ao nível do câmbio.