Título: Salvaguardas ainda não têm reação chinesa
Autor: Paulo Vicentini
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Economia e Negócios, p. B12

A China ainda não reagiu oficialmente aos decretos que regulamentam as salvaguardas contra a importação de produtos chineses, anunciadas ontem pelo governo brasileiro. A notícia foi veiculada apenas pelo site oficial do Ministério do Comércio da China, reproduzindo nota publicada no site da Embaixada da China no Brasil. Apenas duas linhas informam que o "presidente brasileiro e os ministros concernentes publicaram no Diário Oficial do Brasil do dia 6 de outubro os decretos números 5.556 e 5.558 que adotam medidas de salvaguardas contra os produtos têxteis e produtos especiais chineses". Não é apatia. Os chineses ainda estão voltando do feriado de cinco dias em comemoração à fundação da República Popular da China. Além disso, fontes ligadas ao comércio exterior na China classificam a atitude chinesa como "normal e compatível com o pragmatismo que rege a sua política externa".

As seqüências dos fatos parecem dar razão às análises do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, sobre os interesses comuns que unem chineses e brasileiros em relação à participação do G-20 nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo chinês promoverá a 7ª Conferência de Ministros da Fazenda e Presidentes dos Bancos Centrais do Grupo, nos arredores de Pequim, com o próprio presidente, Hu Jintao, presidindo a solenidade de abertura do encontro, em 16 de outubro.

Em relação à aplicação das salvaguardas, as mesmas fontes ressaltaram que o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, sempre "expressou aos chineses que o Brasil regulamentaria as medidas de proteção, independentemente do resultado final das negociações comerciais realizadas na semana passada".

Mas permanecem abertas as negociações sobre restrições voluntárias para as exportações de produtos chineses para o Brasil. Segundo uma fonte, essas negociações são o o melhor caminho para os dois países e não podem ser menosprezadas.

No Brasil, o presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), Paul Liu, disse ontem que ainda é cedo para avaliar se a China vai retaliar o Brasil por causa da regulamentação das salvaguardas. "Só saberemos a reação da China depois que as salvaguardas forem, de fato, aplicadas contra os importados chineses", afirmou. Para ele, a regulamentação do mecanismo, por si só, não vai provocar reações da China, mas sim o montante de processos que entrarão em vigor.