Título: WebJet é notificada pelo DAC pelo cancelamento de vôos
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2005, Economia e Negócios, p. B18

A WebJet foi notificada ontem pelo Departamento de Aviação Civil (DAC) por ter cancelado todos os seus vôos da terça à quinta-feira desta semana. As operações foram retomadas ontem. Como concessionária de transporte aéreo regular, a empresa, que estreou em 12 de julho, tem o compromisso de operar com regularidade e pontualidade. Vôos podem ser eventualmente cancelados por motivos administrativos, de manutenção ou meteorológicos, mas não por falta de passageiro. "Se for constatado que a companhia não voou por falta de quórum, o DAC fará um auto de infração", explicou o departamento. O auto é um comunicado para informar sobre a irregularidade e que isso não deve ser repetido. Novos cancelamentos poderão acarretar em multas e, em casos extremos, até na suspensão de operações. No início do ano, o DAC suspendeu as operações da Vasp pois a companhia, em grave crise financeira, adotou uma postura deliberada de realizar apenas vôos com mais de 50% de ocupação.

O presidente da WebJet, Rogério Ottoni, alega que o cancelamento dos vôos aconteceu de forma planejada e sem prejuízo aos passageiros. "A paralisação foi programada com uma semana de antecedência. Comunicamos aos DAC e paramos de vender para aqueles vôos. Tínhamos pouquíssimos bilhetes vendidos e colocamos todos os passageiros em outras companhias sem problema algum."

Após estrear com uma taxa de ocupação de aeronaves de 59% em julho (referente a 19 dias), a empresa registrou apenas 35% e 34% nos meses seguintes. A média da indústria no período ficou em torno de 70%. O presidente da WebJet atribui o insucesso à concorrência acirrada e acredita haver no mercado um movimento contrário à entrada de novas empresas. "A tarifa praticada pela concorrência nas rotas em que a WebJet opera não paga aqueles vôos. Conheço apenas meus custos, não o das outras. Mas acredito que elas devem compensar os custos com tarifas mais altas em outros vôos. Se isso é correto, não sei. Mas não tenho dúvida de que se deixássemos de operar, os preços nas nossas rotas subiriam logo em seguida."

Segundo fontes do mercado, a empresa já teria perdido US$ 5 milhões com a operação. O empresário nega. "Não dá para falar em prejuízo com apenas 90 dias de operação. Tem que esperar pelo menos um ano."

Ottoni afirma que a empresa pretende reformular suas operações para encontrar um nicho de mercado apropriado. Com apenas uma aeronave, a WebJet nasceu com um conceito de vender só pela internet e optou por operar nas rotas mais rentáveis - e mais concorridas -, como São Paulo, Brasília, Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte. Em setembro, diante da baixa ocupação, a empresa passou a vender também por meio de agentes de viagem, que passaram a ganhar comissão. Agora, a empresa pensa em fazer acordos de pacotes turísticos com as agências. "Quero um tempo para encontrar um nicho adequado. Vamos entrar na alta temporada. Talvez o passageiro de turismo tenha mais a ver com a nossa cara."

Analistas e executivos do setor ouvidos pela reportagem acreditam que, apesar de a WebJet ter entrado com um projeto aparentemente viável - de baixo custo, com vendas pela internet e u ma boa marca -, ela padece de dois problemas: frota limitada e política tarifária rígida, sem diferenciação de preços dentro de um mesmo vôo. "Quem entra para brigar de verdade, tem de operar rotas importantes e ter oferta significativa. É preciso no mínimo dez aeronaves para começar. Senão, você faz cócegas num elefante e, numa pisada, ele te mata", diz um executivo do setor.

"A política de não diferenciação de tarifas (e por decorrência de administração de margens) é suicídio nesta indústria", diz o coordenador do Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo (Nectar), Alessandro Oliveira. " É bom ver as companhias com vigor para competir, mostra que o mercado está mais consolidado. Se as novatas estão tendo dificuldades, isso sinaliza que elas têm de se aperfeiçoar. É barreira à entrada? Sim, mas faz parte do fortalecimento desse mercado."