Título: O empresário da munição mira em outros negócios
Autor: Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Metrópole, p. C5

Temendo desarmamento, Daniel Birmann, da CBC, diversifica seus investimentos em biodiesel, petróleo e energia elétrica

O empresário Daniel Birmann, gaúcho de 53 anos, está no olho do furacão do referendo. Controlador da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), a maior produtora de munição da América Latina, com capacidade de 400 milhões de cartuchos de armas dos mais diferentes calibres por dia, Birmann espera com apreensão o resultado do pleito, que pode mexer nos seus negócios. Hoje, cerca de 30% das vendas da CBC, segundo assessores de Birmann, são voltadas para o mercado interno. As Forças Armadas e as Polícias Militares e Civis estaduais são os maiores compradores, mas 5% da produção abastece armas no País dos que têm e dos que não têm porte. No ano passado, a empresa faturou R$ 200 milhões e está no meio de um plano de investimento de US$ 13 milhões para produzir munição para novos equipamentos de Forças Armadas do mundo.

Só que, considerado uma águia, pelos olhos visionários que tem e a capacidade de enxergar novos negócios para manter e ampliar o bilionário império pessoal, Birmann está investindo em outros segmentos, como petróleo e biodiesel.

No dia 4 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi até o projeto de Birmann, no Campo do Buriti, interior do Piauí, para a colheita da mamona plantada na Fazenda Santa Clara, o primeiro grande projeto de produção de biodiesel da Brasil EcoDiesel, criada por Birmann, cujo lançamento foi em março de 2004. Na ocasião, a então ministra das Minas e Energia, hoje chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, saudou efusivamente o projeto do empresário, que ganhou espaço de destaque no endereço do PT (www.pt.org.br) na internet.

Em São Paulo, a família Birmann está voltada para construção e empreendimentos imobiliários, entre os quais se destacam obras como o Edifício Birmann 21, na Marginal do Pinheiros, integralmente locado à Editora Abril, que publica, entre outros títulos, a revista Veja.

Daniel Birmann tem procurado fugir do foco do debate do referendo, apesar do sonoro NÃO que estampa no endereço da internet da CBC. Ele tem deixado esse papel de defender o não para a bancada do Congresso Nacional, que ajudou a eleger, a exemplo do deputado Alberto Fraga (PFL-DF), que teve quase dois terços de sua campanha em 2002 legalmente financiados pela CBC. Fraga foi a primeira estrela do programa eleitoral do não.

Segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fraga recebeu da empresa de Birmann R$ 60 mil, em duas contribuições de R$ 30 mil.

O empresário que controlou no passado a Marcopolo e a Caraíba Metais, hoje tem, além da CBC e da Brasil EcoDiesel, a Enguia, de terméletricas; o Banco Arbi; a Usina Verde, de reciclagem de lixo; e DFVasconcellos, de produtos ópticos.

A CBC, representada por 70% das ações - a Indústria de Materiais Bélicos (Imbel) do Ministério da Defesa é dona dos outros 30% - passou às mãos do Grupo Arbi, de Daniel Birmann em 1989. Mas sua história começa em 1926, em São Paulo, quando os imigrantes italianos Costábile e Gianicola Matarazzo fundam a Fábrica Nacional de Cartuchos, no Brás, que, em 1932, fornece munição para a Revolução Constitucionalista. Em 1936, seu controle é vendido para a americana Remington Arms e a inglesa ICI e o nome adotado é Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC). Em 1979, a empresa foi nacionalizada e depois privatizada.