Título: País já tem um grupo para traçar plano emergencial
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Vida&, p. A26

Representante do governo acaba de participar de uma reunião organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos

Ameaçadoras, epidemias - ou expectativas de seu surgimento - têm o potencial de despertar na população duas reações típicas: pânico e uma série de crendices, que surgem justamente como tentativa de criar uma falsa sensação de proteção. "Essa história é antiga. Tem a borra de café, no caso da dengue, as máscaras, no caso da Sars", observa o secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Para ele, o estoque particular de medicamentos, mal comparando, cumpre o mesmo papel: necessidade de se criar a idéia de proteção. "Claro que a droga poderá ter sua utilidade. Mas a verdade é que não será com uma caixa de remédio que o problema será resolvido", afirma. Assim que os primeiros alertas sobre o aumento de risco do surgimento de um supervírus de gripe foram feitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil formou um grupo com especialistas para traçar um plano de emergência, que entraria em ação, numa eventual epidemia. "Nenhum plano de contingência, seja de que país for, é feito apenas com remédio. Essa é apenas uma das armas - e nem sei se é a mais importante", avalia.

Na sexta-feira, Barbosa, ao lado de representantes de saúde pública de outros países, participou de uma reunião organizada pelo Departamento de Estado dos EUA para falar sobre um plano internacional contra a pandemia. "Se nosso trabalho fosse questionável, não teríamos sido convidados para falar", afirma o secretário, numa defesa às críticas feitas pelo laboratório Roche sobre a demora da apresentação do plano de contingência brasileiro.

A indústria se ressente pelo fato de não ter sido convidada para participar do grupo de estudo. "Não há nenhuma razão para que eles integrem nossas discussões. Eles podem nos ajudar fornecendo remédios. Para tratar de estratégias de saúde pública, precisamos de especialistas, não de laboratórios", rebate Barbosa.

Para o secretário, a chave para o sucesso no combate à epidemia está na associação de regras de saúde, comerciais e diplomáticas. "É preciso criar compensações econômicas para que países não se sintam tolhidos em contar os primeiros registros da doença." Um problema registrado na China, nos primeiros registros da Sars. "O mundo despertou para o problema só quatro meses depois dos primeiros casos. Um erro como esse não pode se repetir."

Barbosa considera fundamental que a comunidade internacional crie mecanismos de financiamento. Com ele, países estarão mais confiantes de que não terão prejuízos econômicos quando tornarem públicos seus problemas de saúde. A estratégia passa também pela formação rápida de força-tarefa para intervir no local onde a epidemia tem início. Nesses locais, deveriam ser feitas vacinações, uso de medicamentos, isolamentos. "O mundo vai perder feio se tentar usar a velha tática de fechar fronteiras."

A preocupação do mundo é tamanha que mais duas reuniões sobre o assunto estão agendadas até o fim de novembro.