Título: CPI acha ´contato´ de Valério na Fazenda
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Nacional, p. A12

Quebra de sigilo e agenda mostram elo entre empresário e membro de conselho

Registros telefônicos em poder da CPI dos Correios revelam que era grande a influência do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza nos Conselhos de Contribuintes do Ministério da Fazenda. Os dados de sigilos telefônicos da CPI, obtidos pelo Estado, mostram que Valério trocou pelo menos 31 telefonemas com Márcio Machado Caldeira, um dos integrantes da Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda. Os dados referentes às chamadas feitas pela empresa Tolentino e Melo Assessoria Empresarial, de Rogério Tolentino e Cristiano Melo Paz, sócios de Valério, também registram outros 27 telefonemas para o conselheiro.

A agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, indica que o empresário também pagou pelo menos quatro passagens aéreas para o conselheiro em 2003, já no governo Luiz Inácio Lula da Silva, num movimento semelhante ao que fazia com o procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes. O procurador caiu do posto justamente depois de ter seu vínculo com Valério descoberto.

A CPI avalia que Glênio supostamente ajudaria Valério em questões envolvendo o Banco Rural. Agora, a CPI quer investigar se Caldeira tinha a mesma incumbência no Conselho de Contribuintes.

Nas ligações descobertas pela CPI, os contatos telefônicos de Valério começam em 5 de junho de 2002 e vão até o fim do ano. Ao todo, Valério ligou 19 vezes para Caldeira e recebeu outros 12 telefonemas.

No caso da Tolentino e Melo Assessoria Empresarial, todas as 27 ligações são feitas para o conselheiro, mesmo quando ele está em Fortaleza, onde mora.

Esses contatos se prolongaram por mais tempo, ocorrendo em 2003 (três vezes), 2004 (três vezes) e até em 2005, numa ligação feita em 31 de janeiro, da sede da empresa, em Belo Horizonte, para Brasília. As outras 20 ligações ocorreram em 2002. Todos os telefonemas foram feitos para o celular pessoal de Caldeira em Brasília ou para seus números particulares no Ceará.

VIAGENS

A CPI descobriu a indicação de que Valério teria custeado passagens para Caldeira analisando novamente a agenda de Fernanda Karina. As referências às passagens aparecem diversas vezes.

No dia 13 de junho de 2003, há o registro de uma viagem de Brasília para Belo Horizonte, no horário de 15h12, com chegada no Aeroporto da Pampulha às 16h10. A passagem, segundo a anotação, teria custado R$ 269,15.

A agenda indica no dia 21 de junho de 2003 outro vôo de Caldeira, feito em 17 de junho, no trecho Belo Horizonte-Brasília, às 18h.

Na mesma anotação está marcada outra passagem no trecho Brasília-Fortaleza para o dia 18 de junho, às 20h48. Outro registro feito por Karina aparece dia 4 de julho. O vôo para Caldeira foi o JJ 3863, de 16h30, no trecho Brasília-Belo Horizonte. A passagem custou R$ 319,15.

Procurado pelo Estado, Márcio Machado Caldeira teve dificuldades para explicar as ligações de Valério. Primeiro, negou ter qualquer ligação com o empresário.

Depois, numa segunda conversa com o Estado, admitiu que o celular registrado na CPI é de fato dele. 'Mas nunca falei com o Marcos', garantiu. Segundo o conselheiro, ele é amigo de José Roberto Melo, que prestaria 'consultoria tributária' às empresas de Valério.

'Ele pode ter usado um dos telefones do Marcos Valério para falar comigo.' Sobre as passagens, disse que viajava com Melo e o amigo pagava os bilhetes. 'Não sei de onde saía o dinheiro', admitiu.