Título: Benefício ampara 'viúva de marido vivo'
Autor: Lourival Sant'Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Nacional, p. A14

Quando completam 18 anos, os homens de Pedra Branca, no sertão do Ceará, vão embora para São Paulo, trabalhar nos canaviais. As mulheres são conhecidas como "viúvas de maridos vivos". Os R$ 95 do Bolsa Família são a única renda com a qual podem contar. Hoje são 5.502 famílias que recebem o benefício - 65% da população. Outras 2 mil famílias estão na fila. O benefício representa uma injeção de R$ 463.983 mensais no comércio local - 43% dos repasses federais ao município. Maria de Fátima Andrade, de 50 anos, que teve 25 filhos , percorre 18 quilômetros todos os meses, para ir sacar o dinheiro na agência lotérica. Ela e o marido, Antônio, votaram em Lula e dizem que votarão de novo no ano que vem. "O Bolsa Família é muito melhor que as frentes de serviço", compara Antônio. "É dinheiro garantido, até quando Deus quiser."

Dulcinete Maria dos Santos, 42 anos, 10 filhos, não tem geladeira, nem fogão a gás. O chão da casa sem reboco não tem piso. Ela mora na periferia de Cabrobó, no sertão pernambucano, e sustenta a família basicamente com os R$ 95 que recebe do Bolsa Família. Ela representa uma das 2.683 famílias atendidas no município de 28 mil habitantes. Nem a oposição à prefeitura aponta irregularidade no gerenciamento. "Mas vicia o cidadão e torna a população dependente", critica o vereador Ramsés Sobreira (PPS). "Traz dividendos eleitorais e estimula a mercantilização do voto."

O escândalo do mensalão deixou a costureira Maria Selma de Souza Onofre, 46 anos, de Belo Horizonte, desconfiada em relação ao governo Lula. Mesmo assim, ela está decidida a dar "mais uma chance" ao presidente, por causa do Bolsa Família. Desde 2003 ela completa os cerca de R$ 350 que consegue por mês costurando com os R$ 95 do programa federal. "Ainda é pouco, mas com isso meus filhos podem estudar."