Título: Ideli, a encarregada de esfriar a CPI
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Nacional, p. A7

Líder informal do Planalto, senadora é criticada por colegas por estratégias consideradas polêmicas, agressivas e até inocentes

Nos 150 dias de funcionamento da CPI dos Correios, os embates entre governo e oposição têm sido acirrados e, geralmente, são protagonizados pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Líder informal do governo na Comissão, ela não poupa esforços para esvaziar o plenário da CPI para defender os interesse do Palácio do Planalto. Mesmo que tenha de se expor diante dos integrantes da Comissão e ser alvo de críticas públicas feitas por colegas de parlamento. "A senadora Ideli é sem dúvida quem atua pelo governo na CPI. E às vezes sua atuação representa o desespero do PT. Por isso, acho que muitas vezes ela faz manobras um tanto inocentes e até primárias", diz o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR). E, como exemplo de "inocente e primária", cita o pedido da senadora, na frente dos integrantes da Comissão, para que deputados da base aliada se retirassem do plenário da CPI. Com a estratégia, a petista conseguiu que não houvesse quórum para votar requerimentos de quebra de sigilo de 11 corretoras que teriam dado prejuízo em negociações de títulos públicos com fundos de pensão.

A senadora Ideli se defende com o argumento de que foi eleita para ser parlamentar da base aliada. Garante que, por trás de suas atitudes, há sempre estratégia em prol do governo. Explica que era favorável à quebra do sigilo das 11 corretoras, mas que era necessário número maior de parlamentares da base aliada no plenário da CPI para votar requerimentos que dão acesso às informações no disco rígido apreendido pela Polícia Federal no Banco Opportunity, de Daniel Dantas. "Tenho certeza que PFL e PSDB se retirariam da sessão depois de aprovar as quebras de sigilo das corretoras para não votar a quebra do sigilo do Opportuniy", justifica-se a petista.

Em seu primeiro mandato como senadora, após ter sido duas vezes deputada estadual por Santa Catarina, Ideli Salvatti diz que "se joga de cabeça em tudo o que faz". "Ninguém me obriga a fazer isso que faço. Mas gostaria de ter mais gente para dividir tarefas."

Mas a atuação da senadora é considerada polêmica. Não mede palavras nem com integrantes da CPI. Na última quinta-feira, repreendeu o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) porque ele ria no depoimento do doleiro Jader Kalid, que preferiu se apresentar como "consultor financeiro". "A senadora tem conduta agressiva na CPI. A impressão é que não há estratégia de governo. E, se por acaso houver, ela não é competente", dispara o tucano.

"O governo tem deixado todos os integrantes de sua base bastante à vontade na CPI. Não tenho recebido orientação", assegura o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que prefere não entrar nas discussões protagonizadas por Ideli e oposição na CPI dos Correios.