Título: Fazendeiro que dirigiu PDS se rende à foice e ao martelo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Nacional, p. A6
Leomar Quintanilha, já apelidado de "camarada", diz que se encontrou ao trocar o PMDB pelo PC do B de Aldo Rebelo
Na última quarta-feira, durante reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), dirigiu-se ao senador Leomar Quintanilha (TO): "Camarada, camarada." Os tucanos Arthur Virgílio (AM) e Tasso Jereissati (CE) riram. Virgílio provocou: "Eu sempre soube que ainda ficaria à direita do senador Quintanilha." Desde então, Leomar Quintanilha virou o "Camarada". No início da semana, ele abandonara o PMDB para ingressar no PC do B. Quintanilha é o exemplo de como a política passa por uma fase confusa. Ex-dirigente do PDS de Paulo Maluf e Jarbas Passarinho, ele nunca leu nada de Marx, Engels, Stalin, Enver Hoxha ou Mao Tsé-tung, só para citar alguns dos autores preferidos dos comunistas do PC do B. Tem uma fazenda de 1,6 mil hectares a 40 quilômetros de Colinas, cerca de 300 quilômetros ao norte de Palmas, um tipo de propriedade pouco comum entre os comunistas.
Ele diz gostar da foice e do martelo, pela simbologia. "Significam a união dos trabalhadores do campo e das cidades. Meu pai era da roça e minha mãe, professora primária. Minha vida começou pela foice e pelo martelo." Quintanilha ainda está se adaptando ao novo partido. Não sabe, por exemplo, quanto terá de pagar de dízimo do seu salário ao partido.
Em alguns casos, o PC do B cobra até 50%. "Isso eu ainda vou ter de conversar", diz ele, que deverá ser eleito presidente do partido no Tocantins. "Hoje temos diretórios em 17 municípios. Quero levar o partido para os 139."
O senador jura que entrou no PC do B porque tem afinidades com o partido. "O PC do B defende a reforma agrária, a distribuição de renda, o humanismo, os mais pobres, ataca as distorções sociais, prega a redução nos juros e melhor formação do indivíduo. Perfeito. É isso que defendo".
Ele disse que há tempos procurava um novo modelo político e o encontrou no PC do B. Foi convidado formalmente a virar comunista pelo deputado Renildo Calheiros (PC do B-PE), irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
SURPRESA
Quintanilha diz que nasceu numa família muito pobre de Goiânia. Teve de trabalhar cedo. Foi balconista, vendeu frutas e trabalhou na reitoria da Universidade Federal de Goiás. Fez concurso para o Banco do Brasil, passou e foi mandado para Araguaína, na época em Goiás, hoje norte do Tocantins. Mudou-se para lá em 1965.
De 1972 a 1975, o seu PC do B fez na região a Guerrilha do Araguaia. "Nunca chegou informação do movimento. E eu, como fiscal do banco, viajava constantemente para a região. Via a movimentação de tropas, mas não sabia para quê." Em 1976, apenas um ano depois do fim da guerrilha, tornou-se o presidente da Arena, o partido do governo militar, em Araguaína.
Com o novo Estado, foi eleito deputado pelo PDS (sucessor da Arena) para mandato tampão de dois anos. Em 1990 foi reeleito e em 1994 saiu senador, reeleito em 2002. Além da Arena e do PDS, passou pelo PP, PFL e PMDB, até encontrar o seu verdadeiro abrigo ideológico.Tem 59 anos e três filhos. Sua decisão causou imensa surpresa à família.