Título: Dirceu promete ficar de lado
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2005, Nacional, p. A4

Na chapa de Berzoini, ex-ministro diz que deixará direção do PT

Depois de presidir o PT durante 8 anos, de 1995 a 2002, o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP), garante que deixará a direção do partido, embora sua permanência na chapa do Campo Majoritário tenha sido objeto de muita polêmica. "Eu ficarei na suplência", diz, resignado. Acusado de ser o chefe do pagamento de propina a parlamentares, em troca de apoio ao governo no Congresso, Dirceu está à beira da cassação. Em conversas reservadas, o homem que arquitetou as alianças com partidos de centro e de direita afirma que foi abandonado pelo governo e por companheiros do PT, embora só o ex-tesoureiro Delúbio Soares enfrente processo na Comissão de Ética. Dirceu cita explicitamente o presidente do PT, Tarso Genro - que com ele travou uma queda-de-braço e desistiu de ser candidato do Campo Majoritário - e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP).

"O pior, quando se está numa guerra, é o teu companheiro não te cobrir e te entregar para o inimigo", afirmou o ex-ministro na sexta-feira a um colega de partido, durante reunião da bancada petista com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. "É duro."

Trincado por denúncias de corrupção que atingiram em cheio o Campo Majoritário - grupo de Lula e de Dirceu -, o PT teve seus principais dirigentes arrastados pelo escândalo. Em julho caíram o presidente do partido, José Genoino, e o secretário-geral, Silvio Pereira. No início de agosto foi a vez do tesoureiro, Delúbio Soares, um dos personagens centrais da crise. Sem contar o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP), que já dirigiu o Grupo de Trabalho Eleitoral do PT e também integra o rol dos que podem perder o mandato.

Inconformados, sete deputados federais deixaram o PT no mês passado e houve uma debandada entre os militantes. Estima-se que pelo menos mil tenham deixado a legenda em direção ao PSOL da senadora Heloísa Helena (AL).

Tarso Genro admite que o partido sofreu "um processo de deformação" ao chegar ao poder. Mas acha que é possível corrigir o desvio de rota, mesmo com a disputa incessante entre suas tendências. Sugere, por exemplo, um programa mais ousado para a campanha da reeleição de Lula. "Eu não apresentaria um programa que tivesse as características da política econômica atual porque seria incompatível com a reeleição do presidente Lula", diz.

O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, admite que a chegada ao Planalto trouxe desgate para o PT. "É óbvio que uma parte do PT se ressentiu de ser governo, porque o partido teve de reciclar seu discurso anterior e dar satisfação às bases", argumenta. "Isso não é fácil."