Título: O abafa não compensa
Autor: Dora Kramer
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A6

CPI dos Bingos é um exemplo de cadáver insepulto que virou assombração O deputado Aldo Rebelo está numa situação excelente: tem agora mais que uma chance de ouro; tem uma oportunidade de diamante de imprimir boa marca à sua gestão na presidência da Câmara e mostrar total descompromisso com a alegria exibida pelos réus das cassações no dia da sua eleição.

A fotografia dos acusados aos risos e saltitos no momento do anúncio da vitória apontam para a expectativa de que o presidente use de algum estratagema para salvar pelo menos alguns ou assuma ele mesmo o risco máximo de mandar arquivar os processos de cassação sem enviá-los ao Conselho de Ética.

Aldo será um presidente mais ou menos acreditado, a depender do maior ou menor grau de atendimento daquelas esperanças mensalãs. É dono da prerrogativa de escolher entre fazer um serviço ao alheio e prestar um desserviço a si mesmo.

O presidente da Câmara diz que examinará os casos durante o fim de semana e dará uma opinião depois; ontem limitou-se à repetição de formalidades sobre a supremacia do espírito público e do regimento interno.

Além dos autos, quem sabe não seria bom se o deputado levasse também no fim de semana para exame detido a memória das causas e conseqüências do arquivamento da CPI dos Bingos, em 2004, por decisão do então presidente do Senado, José Sarney.

Enterrada por obra e graça de uma manobra regimental urdida com o patrocínio não apenas de Sarney, mas também dos líderes partidários - entre eles o atual presidente do Senado, Renan Calheiros, então líder do PMDB na Casa -, que concordaram em não indicar representantes para integrar a comissão, a CPI ressuscitou tempos depois com força redobrada.

Chamada pelo governo de "CPI do fim do mundo" (o intuito é de desqualificar, mas o apelido de certa forma traduz o potencial explosivo contido na atuação de seus integrantes, majoritariamente de oposição), a comissão foi instalada a mando da Justiça e hoje funciona como desaguadouro das causas impossíveis nas outras CPIs, dos Correios e da compra de votos.

Do mesmo jeito que provavelmente não compensará agora Aldo Rebelo engendrar manobras para tentar livrar os mensalistas, também não compensou o golpe para supostamente sepultar o escândalo Waldomiro Diniz.

A CPI terminou sendo criada num momento muito pior. Em plena crise, com a oposição fortalecida, o governo politicamente enfraquecido e moralmente desgastado, o índice de credibilidade de denúncias aumentado pela veracidade das acusações do mensalão.

Há um ano, era um cadáver insepulto. Hoje, virou assombração.

Passo adiante

O apoio explícito de César Maia ao pré-candidato tucano à Presidência da República e governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, indica que além de desistir do blog o prefeito abandonou também a própria candidatura, lançada no início do ano pelo PFL.

A direção nacional do partido confirma que a idéia é mesmo a de caminhar junto com o PSDB. Pela análise pefelista, os tucanos estão muito mais perto das condições ideais - candidatos viáveis e bons índices nas pesquisas - para enfrentar Lula com chance de sucesso.

Na cúpula apenas se pondera que César Maia não precisava pôr as cartas na mesa desde já, no momento em que até partidos pequenos se apresentam com candidaturas próprias à Presidência e, assim, montam seus cacifes para o jogo eleitoral.

Admitindo composição já nas preliminares, os pefelistas perderiam força nas negociações. Mas há quem considere que o prefeito do Rio de Janeiro não tenha incorrido numa precipitação vã.

Pode estar também atendendo a dois objetivos: no âmbito interno, o de firmar a preferência do grupo de Antonio Carlos Magalhães por Alckmin, contra a tendência da ala de Jorge Bornhausen a favor de José Serra.

No plano externo, a intenção seria a de informar a quem interessar possa - ao governo, principalmente - que os dois maiores partidos de oposição marcharão juntos e dar, assim, uma demonstração de força e unidade.

A este clima de a união faz a força os oposicionistas do PMDB também estão muito tentados a aderir, deixando aquele discurso sobre afirmação partidária e necessidade de candidatura própria para quem for inglês assistir.

Tempos depois

O deputado José Dirceu, avesso a contatos e arisco ao mundo da informação nos tempos de poder, atualmente se dedica com afinco, e muita delicadeza, a procurar profissionais de imprensa em busca de espaços para sua defesa.

Está oferecendo entrevistas.

Diga-se a respeito da oferta que seu potencial jornalístico é bastante questionável, dada a intenção explícita do deputado de usá-las no seu estrito interesse pessoal e não no intuito de esclarecer fatos por ele protagonizados.