Título: Dirceu diz que não desiste: 'Melhor mandar me matar'
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A7

À espera do juízo final, o ex-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) afirmou ontem que vai lutar até o fim para se defender, embora saiba que seu mandato está por um fio. 'É uma corrida contra o tempo para me cassar¿, comparou. 'É melhor mandarem me matar.' Em conversa no plenário, ontem à noite, Dirceu insistiu em que o seu julgamento é político. 'Todo mundo aqui sabe que eu não sou o chefe do mensalão', disse o deputado. 'Todo mundo sabe que eu não peguei um centavo e não deixei o Roberto Jefferson capturar as empresas do Estado', emendou, numa referência ao seu algoz.

Ao ser informado pelo colega Carlos Abicalil (PT-MT) de que o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) divulgou à imprensa e ao relator do seu processo no Conselho de Ética, Júlio Delgado (PSB-MG), informações passadas em sessão secreta à CPI dos Correios, Dirceu mostrou desânimo. ¿Estão vendo? Ele quebrou o decoro parlamentar¿, disse, negando que tenha tomado do PT um empréstimo de R$ 14.332,51, sem declarar a operação no Imposto de Renda, como informou Lorenzoni à CPI. ¿Não foi empréstimo. Foi um acerto de contas.¿

Apesar de ter recorrido ao Supremo Tribunal Federal (STF) para solicitar o arquivamento do processo da Câmara que pede a sua cassação, Dirceu sabe que suas chances são remotas. Em público, porém,tenta demonstrar esperança.

Todos os dias ele telefona para deputados de vários partidos e pede que ouçam suas explicações. No corpo-a-corpo, tem solicitado conversas reservadas. ¿Eu não estou pressionando ninguém. Tenho direito à defesa.¿

Na noite de ontem, por exemplo, conversou ao pé do ouvido com alguns colegas. ¿Ô Paulo Pimenta, por que você não gosta mais de mim?¿, provocou, dirigindo-se ao companheiro de partido que renunciou à vice-presidência da CPI do Mensalão depois de ter pego carona com o empresário Marcos Valério. Tapinhas nas costas, eles conversaram animadamente.

Submetido a incessantes flashes dos fotógrafos, o ex-ministro parou e cochichou no ouvido de outro colega: ¿Um dia eu vou tropeçar aqui de propósito, só para eles ficarem contentes com a manchete `Dirceu cai¿.¿

Ainda no plenário, ele assistiu à briga entre o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e Inocêncio Oliveira (PL-PE). Ajudou até a apartar os dois contendores. ¿Foi gravíssimo¿, testemunhou.

Além da cassação, o que preocupava José Dirceu ontem era o referendo do desarmamento, marcado para o dia 23. ¿Acho que vamos ter uma surpresa: a propaganda a favor das armas está boa¿, comentou. E o senhor, é contra ou a favor da proibição do comércio de armas? ¿Sou contra as armas¿, respondeu ele. Atirador de elite, treinado em Cuba, o ex-guerrilheiro confessou: ¿Nunca fiz isso com paixão.¿