Título: Irmão de Daniel diz que assessor de Lula levava dinheiro a Dirceu
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A8

No mais contundente depoimento feito à CPI dos Bingos, o professor Bruno Daniel - irmão de Celso Daniel, prefeito assassinado de Santo André - confirmou ter ouvido do chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, a confissão de que a morte teve ligação com esquema de extorsão montado na cidade para financiar o PT. Segundo Bruno, na Missa de 7.º Dia de Celso Daniel, em 26 de janeiro de 2002, Carvalho pediu para conversar com a família do prefeito e fez revelações comprometedoras. "Ele disse que eram momentos de tensão porque tinha de ir em seu Corsa preto, sem segurança, entregar o dinheiro ao deputado José Dirceu", afirmou Bruno, referindo-se a Carvalho. "E que em uma só vez entregou R$ 1,2 milhão ao deputado (então presidente do PT)."

De acordo com Bruno, a atitude de Carvalho - que na época era secretário de Governo de Santo André - representou um recado para os parentes do prefeito não insistirem na investigação. Em depoimento à CPI, o chefe de gabinete negou com veemência ter feito a confissão, contada pela primeira vez por outro irmão do prefeito, João Francisco. Os três serão acareados pela CPI, em sessão aberta, no dia 26.

Diante dos senadores, Bruno foi categórico: "A família tem plena convicção, baseada em provas materiais e fortes evidências, de que o crime foi encomendado e não comum, como insistem o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e outros petistas que apoiaram as investigações feitas pela Polícia Civil de São Paulo." Disse ainda que o prefeito sabia do esquema. "Foi montado um esquema de arrecadação de recursos, ele tinha controle do que acontecia na prefeitura", afirmou, diante da insistência do senador Tião Viana (PT-AC) de que Celso não se envolveria com corrupção.

Na avaliação de Bruno, seu irmão foi morto porque não concordava que o dinheiro estivesse sendo usado para enriquecer pessoas, e não apenas para custear iniciativas do partido. Segundo ele, a família encontrou no apartamento de Celso um dossiê com o nome de pessoas ligadas ao partido que supostamente tinham enriquecido de forma indevida.

O inquérito sobre o assassinato foi criticado por Bruno, que leu uma lista com 10 falhas no trabalho dos policiais. Ao lembrar do relacionamento com os irmãos, ficou com a voz embargada e teve de se controlar para não chorar. Ele se referiu indiretamente a Greenhalgh, que dissera à CPI que os irmãos Daniel não se davam bem. "A tentativa de desqualificar nossa família é uma cortina de fumaça para evitar a busca da verdade."

O senador José Jorge (PFL-PE) leu a afirmação em que Lula assegurava, em janeiro de 2002, na solenidade em memória de Celso Daniel, que o crime foi encomendado: "Estou convencido, mas não tenho provas, de que você, Celso Daniel, não foi vítima de um incidente. Possivelmente sua morte foi planejada, possivelmente tem gente grande atrás disso", afirmou Lula. Para o senador, se naquela época Lula já pensava assim, "hoje, então, depois do Delúbio (Soares), do Marcos Valério, é difícil não acreditar que havia um esquema de corrupção por trás da morte do prefeito."

KLINGER

Bruno Daniel revelou um fato curioso no seu depoimento. Segundo ele, quando de seu embarque de São Paulo para Brasília, ontem, pessoas que o acompanhavam teriam visto no aeroporto o ex-secretário Klinger de Oliveira, que foi denunciado ao Ministério Público como membro da quadrilha que extorquia os empresários em favor do PT. Ele lembrou que também João Francisco viu Klinger no aeroporto de Brasília no dia em que depôs na comissão.

O relator e o presidente da CPI, senadores Garibaldi Alves (PMDB-RN) e Efraim Morais (PFL-PB), chamaram a atenção para a coerência nas afirmações do depoente. Entre ele e Gilberto, Garibaldi disse que "as evidências ficam em favor do irmão".