Título: Se acordo não for cumprido, volta ao jejum
Autor: Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A12

DESCONFIANÇA: O acordo firmado ontem entre o frei Luiz Flávio Cappio e o governo já nasceu sob a marca da desconfiança. Logo depois de anunciado, o ministro afirmou aos jornalistas, antes de retornar a Brasília, que ninguém falou em suspensão ou paralisação do projeto. Ao ser indagado sobre isso, o bispo de Barra (BA) reagiu: "Se ele falou isso, deu uma declaração mentirosa, não foi isso que foi dito." O religioso afirmou que quando existe uma negociação o ponto de partida é a confiança mútua. "Se eu não confio nele e ele não confia em mim, nunca haverá entendimento, parto da premissa da confiabilidade. Ele faz uma proposta, apresento uma outra, discutimos os pontos, existe consenso, o meu dever é acreditar que os pontos serão levados a sério." Disse preferir aguardar os acontecimentos e garantiu que, se o acordo não for cumprido, volta para Cabrobó e para a greve de fome, reiniciando a luta. E garantiu não ter sido pressionado a ceder. "Fiz a minha parte, que a sociedade brasileira faça a sua." O bispo, que perdeu 4 quilos nos 11 dias de greve, e estava visivelmente exausto, ainda participou de uma missa em ação de graças na Igreja da Sagrada Família, com a presença de autoridades religiosas, inclusive o núncio apostólico do Brasil, d. Lourenço Baldisseri. D. Luís pediu desculpa ao bispo local, d. Adriano, pelo tumulto causado na diocese. Só depois, às 20h20, foi ao hospital local, para tomar soro. Visitado por romeiros e fiéis, o frei teve sua imagem reproduzida em santinhos confeccionados pela prefeitura de Barra e distribuídos em Cabrobó, trazendo a frase de sua autoria: "Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho." Camisetas também foram distribuídas por religiosos. O gesto de d. Luís atraiu a atenção internacional e representantes da BBC de Londres, Reuters e AFP faziam a cobertura jornalística.