Título: 'Espero que a moda não pegue', diz d. Odilo Scherer
Autor: Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A12

O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Odilo Pedro Scherer, criticou ontem a greve de fome do frei Luiz Flávio Cappio. "Sinceramente, espero que a moda não pegue, pois a gente não pode aceitar a greve de fome até a morte", disse. Ele informou que o Vaticano mandou à tarde um "pedido" para o religioso suspender o jejum extremo contra a transposição do rio São Francisco, ordem acatada pelo religioso. Na avaliação de Scherer, uma greve de fome de um deputado também teria tido a mesma repercussão. Diante de risos de jornalistas, ele completou: "Ou não teria". O secretário-geral disse não ter conhecimento se a mensagem enviada pela Congregação dos Bispos da Santa Sé a Luiz Flávio Cappio, por meio do núncio apostólico Lorenzo Baldisseri, foi lida antes pelo papa Bento XVI. "A mensagem, que deverá ser divulgada nos próximos dias, vai no sentido de que ninguém é dono da própria vida", relatou. "Não entro no mérito se ele seria expulso pelo Vaticano." A uma pergunta se o fim da greve foi resultado da negociação do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, ou da imposição do Vaticano, Scherer respondeu que o impasse terminou graças ao diálogo. Homem forte da Igreja no País, Scherer disse que a greve do frei foi algo "novo", "pessoal" e que pegou todos de surpresa. "O fruto positivo deste ato foi que o Brasil inteiro tomou conhecimento da questão da transposição do rio", afirmou. "A causa era grande e justificada", ponderou. Scherer salientou que usar o jejum como protesto não é novidade e pode ser aceitável, o que a Igreja não concorda é com greve de fome extrema. "Gandhi fez esse gesto (jejum como protesto), o que complicou foi a declaração dele (Cappio) de fazer greve até a morte", afirmou. "A Igreja diz que isso não é eticamente aceitável."