Título: Uma ligação de Cabrobó, e acaba agonia da família
Autor: Ângela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Nacional, p. A12

A boa nova chegou por volta das 17h30, quando o telefone tocou na Cappio Sorveteria e o empresário João Franco, chamando de Cabrobó, resumiu o alívio da família em duas frases: "Acabado. Vocês terão mais informação pela imprensa." Luiz Fernando, Letícia, Sérgio, Luiz Flávio e Renata, os sobrinhos de d. Luís Flávio Cappio que moram em Guaratinguetá, onde ele nasceu, riram e choraram de alegria. Pouco mais de duas horas antes, às 14h48, o pai havia ligado para dizer que terminara sem acordo a reunião com o ministro Jacques Wagner.

A família vivia na angústia desde o dia 26, quando d. Luís Flávio iniciou a greve de fome, porque todos tinham certeza de que, se o governo não cedesse, ele iria até o fim. "Conhecemos bem o tio e sabíamos de sua determinação", diz Luiz Flávio, xará do bispo, que ganhou esse nome porque nasceu no dia em que ele foi para a Bahia.

Alice, de 6 anos, filha de Letícia, pulou de satisfação, ao saber da notícia. "Quando tio Flávio vai comer?", perguntava, cada vez que via o tio-avô na televisão. A família evitava falar sobre a situação com as crianças, mas elas estavam atentas.

Contra a vontade do pai, mas com o apoio dos irmãos, Renata estava arrumando as malas para ficar junto do tio em Cabrobó. Ela e o engenheiro Waldomiro Rizzato, colega de infância de d. Luís, Flávio que estava de vigília na sorveteria.

"Agora os planos mudaram, vamos comemorar e dar graças a Deus", anunciou Sérgio, vestido com uma camiseta da Paróquia de Nossa Senhora da Glória, onde d. Luiz Flávio foi ordenado bispo em julho de 1997.

PEREGRINAÇÃO

Com o apoio de equipes de pastoral da paróquia, a família Cappio está organizando uma peregrinação à Basílica de Aparecida, cidade vizinha, para agradecer. A romaria sairá às 6 horas de domingo e percorrerá a pé uma distância de sete quilômetros.

Ontem, os romeiros que assistiram às missas do santuário da Padroeira do Brasil, em Aparecida, rezaram pelo bispo, pedindo a Deus que lhe desse discernimento para defender o povo ribeirinho do Rio São Francisco sem ter de sacrificar a vida.

"Acho que luta por uma boa causa, mas não gostaria que ele morresse", disse a paulista Cleusa Porte, de Ibitinga, quando se dirigia para a sala das promessas com o marido, filho e nora.