Título: Seis africanos são mortos em Melilla
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Internacional, p. A14

Seis africanos morreram na madrugada de ontem tentando ultrapassar as barreiras de segurança de Melilla, um dos dois enclaves espanhóis do norte da África, informaram funcionários do Ministério do Interior da Espanha. Eles não revelaram as circunstâncias das mortes. Segundo algumas testemunhas, teriam sido baleados. Outras, no entanto, asseguram que foram pisoteados pela multidão, estimada em 1.500 pessoas, que tentava derrubar os alambrados de arame farpado. Eleva-se agora a 11 o número de africanos mortos ao forçar sua entrada na Espanha pelas fronteiras do norte da África em pouco mais de uma semana. Cinco morreram baleados em 27 de setembro no enclave de Ceuta, na primeira das cinco tentativas dos africanos de entrar na Espanha. As polícias espanhola e marroquina acusam-se pelos disparos.

"Desta vez (a quinta), ninguém conseguiu cruzar a fronteira", assegurou ontem um porta-voz da guarda de fronteira, reforçada com tropas do Exército espanhol. A multidão, detectada por dispositivos eletrônicos e câmeras de TV, foi sobrevoada por helicópteros militares espanhóis que orientavam as forças de segurança em terra. Africanos de várias nacionalidades acampam em barracas em bosques marroquinos ao longo da fronteira de 10 quilômetros. Aguardam ali um momento oportuno para forçar a entrada em Melilla ou Ceuta e dali alcançar o continente.

ACORDO

A nova tentativa de invasão ocorreu menos de 24 horas depois que Espanha e Marrocos firmaram um acordo para conter os ilegais. A vice-primeira-ministra María Tereza Fernándes de la Vega, que negociou com as autoridades marroquinas, recusou-se a revelar detalhes. Mas funcionários do Ministério do Interior adiantaram que se trata, na prática, da reativação de um tratado de 1992 que permite à Espanha devolver os ilegais sem trâmites burocráticos ao Marrocos. Com base nos entendimentos, 70 pessoas de vários países do centro da África,detidas em Melilla, já teriam sido expulsas.

O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, manifestou preocupação com essas expulsões. Pediu tanto ao Marrocos quanto à Espanha que os imigrantes irregulares sejam tratados com humanidade. Organizações internacionais de direitos humanos também vêem com apreensão a sorte deles. Lembram que essas pessoas também entraram de forma ilegal no Marrocos.

Procurando tranqüilizar a ONU e as ONGs, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodrigues Zapatero anunciou que seu governo está para concluir acordos de repatriação de ilegais com Mali e Gana. Mas ele admitiu que a raiz do problema está na pobreza que caracteriza a região.