Título: Greve de professores atinge 31 federais
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Vida&, p. A17

Depois de quase dois meses de greve dos professores do ensino superior federal - a primeira instituição, no Acre, parou em 15 de agosto -, não há no horizonte nem sombra de que as negociações possam chegar ao fim. Ontem, com a adesão da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, subiu para 31 o número de instituições atingidas completa ou parcialmente pela greve, de um total de 61 universidades, faculdades e centros de educação tecnológica. Outras ainda discutem a adesão ao movimento. Na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os professores deverão entrar em greve a partir de segunda-feira. Na terça-feira, eles decretaram estado de greve e até a noite de ontem estavam reunidos em assembléia para decidir os próximos passos da paralisação. O principal sindicato dos professores, o Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior Federal (Andes), acusa o Ministério da Educação de não receber o comando de greve. Já o MEC diz que fez uma proposta e precisa saber o que os professores acharam dela antes de tentar mudá-la.

Por enquanto, ainda não há sinais de que a greve possa complicar o já confuso calendário escolar. Por causa das greves de 2001 - a mais longa de todas, 99 dias - e de 2003, algumas instituições hoje em greve estão no recesso escolar, que normalmente seria em julho. Isso significa que a paralisação não está afetando a todos. Isso só vai acontecer se a greve se mantiver por mais um mês.

"Se conseguirmos resolver a questão em mais 15 dias, que é a minha expectativa, acredito que o calendário vai estar assegurado", disse Ronaldo Nado Teixeira, secretário-executivo adjunto do MEC. Nenhuma das universidades em greve tomou ainda a decisão de mexer no calendário escolar ou de seus vestibulares.

NEGOCIAÇÕES

As negociações terão uma nova rodada hoje. No primeiro encontro, há uma semana, o MEC apresentou aos professores uma proposta com dois pontos. O primeiro deles é a criação do cargo de professor associado, uma das reivindicações do sindicato. "Isso serviria para promover vários professores que estão represados na categoria de adjunto IV, sem possibilidade de virar titular, e representaria um aumento de 10% para essas pessoas", disse Teixeira. Os professores são divididos hoje em quatro categorias, sendo a mais alta a de titular. No entanto, para passar a essa faixa é necessário concurso.

A outra proposta é um reajuste de 50% no salário-base por titulação - especialista, mestre e doutor. Hoje, o salário-base mais baixo é de R$ 701 e o mais alto, de R$ 1.308. Sobre eles, no entanto, ainda pesam a titulação, gratificações e os acúmulos por tempo de serviço. De acordo com Teixeira, isso representaria um reajuste médio de 10% para os professores. No total, o MEC já tem R$ 395 milhões para fechar o acordo. Mas os professores querem um reajuste geral e linear de 18%.

O Andes reclama que o ministério não passou nem perto da sua principal reivindicação, que é a incorporação das gratificações. O MEC diz que isso agora é inviável. "Foi criado um grupo de trabalho para analisar o assunto, discutiu-se por nove meses e não se chegou a nenhuma conclusão. Agora, querem discutir em outro grupo de trabalho sobre carreira. E o MEC nem mesmo recebe o comando de greve", reclama a professora Marina Barbosa, presidente do Andes.

A briga acontece porque o MEC está chamando para a negociação não só o Andes, mas a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes), a Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Pro-Ifes, um sindicato novo, criado neste ano como dissidência do Andes e mais alinhado com o PT.

Nas universidades onde o Pro-Ifes domina, não há greve. Por isso, eles não teriam representantes no comando de greve. A maneira como o MEC negocia tiraria a força do sindicato.

VESTIBULAR: Hoje é o último dia para os candidatos se inscreverem nos vestibulares da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para a Unesp, é preciso comprar o manual do candidato, no valor de R$ 10, e pagar a taxa de R$ 95. A inscrição pode ser feita pelo site da Fundação Vunesp (www.vunesp.com.br). O exame acontecerá entre os dias 18 e 20 de dezembro.

A Unifesp também disponibiliza a inscrição pela internet, no site www.unifesp.br ou www.vunesp.br, mediante o pagamento de uma taxa de R$ 92 em qualquer agência bancária. Quem não tem acesso à rede, pode usar um dos terminais do campus de São Paulo e Santos. A prova está será feita entre os dias 14 e 16 de dezembro.

Já a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) prorrogou o prazo para os candidatos. Devido à greve dos Correios, a inscrição está aberta até terça-feira.