Título: Câmbio: Furlan contesta Palocci
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Economia & Negócios, p. B1

Os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, deram ontem declarações divergentes sobre o câmbio. Palocci afirmou que, apesar da valorização do real, as exportações seguem batendo recordes. Furlan observou, porém, que essa avaliação só é válida no curto prazo. "Na fotografia de hoje, ele (Palocci) tem razão. Mas nós aqui, por sermos a bandeira do desenvolvimento, temos a obrigação de olhar o futuro. Estamos colhendo hoje o que foi plantado em 2003 e 2004. E, no ano que vem, e nos anos subseqüentes, vamos colher o que estamos plantando agora", alertou. "O conforto de hoje não garante o sucesso de amanhã."

Com isso, Furlan se junta a seu colega da Agricultura, Roberto Rodrigues, nas críticas à condução da macroeconomia. Em entrevista publicada na terça-feira pelo Estado, Rodrigues alertou que o câmbio desvalorizado tem pesado contra o agronegócio, reduzindo a receita dos exportadores. "Contra esse câmbio, não tem política agrícola que resolva", desabafou.

O ministro Furlan reconheceu que o Banco Central e o Tesouro fazem uma política autônoma de reconstituição de reservas e compras de dólares, mas alertou que os problemas derivados do câmbio desfavorável já começam a surgir. Ele informou que fabricantes de automóveis, eletrodomésticos da linha branca e calçados estão revendo para baixo seus planos de investimento para 2006 e refreando seu "ímpeto exportador" porque não têm mais rentabilidade em alguns mercados.

O risco, avaliou o ministro do Desenvolvimento, é o câmbio eliminar a presença de algumas empresas brasileiras no mercado internacional. "A nossa preocupação já não é mais com 2005, onde os dados estão praticamente consolidados. Queremos que 2006 e 2007 sigam essa tendência de crescimento das exportações de 20% ao ano", disse Furlan.

SEM ALTERAÇÕES

Apesar das críticas de Furlan e Rodrigues, Palocci reafirmou ontem que o governo não vai alterar a política cambial, por dois motivos: "Porque não é uma boa política e porque nunca dá certo isso", disse ele. "O mais importante é que a gente acompanhe os indicadores da economia e veja que eles são favoráveis do ponto de vista das contas externas e continue atuando com os instrumentos que estão sendo efetivos para o crescimento do País", afirmou Palocci, após participar de solenidade no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

"Não rediscutimos a nossa política cambial, que é de câmbio flutuante desde 1999, porque achamos que ela presta um bom serviço à economia brasileira." Palocci argumentou que as contas externas passaram de um déficit de 5% do PIB em transações correntes para um superávit de cerca de 2% do PIB. "É um ajuste de quase 7% do PIB, feito em função de um equilíbrio macroeconômico e de um câmbio flutuante. Então, nós não devemos interferir e tentar levar o câmbio a um valor que possa agradar a um ou outro setor."

Palocci disse ainda que a valorização do real representa a melhoria da renda das famílias. "Nós não podemos lutar contra a renda das famílias.Precisamos favorecer esta evolução."

COMPETITIVIDADE

Também em defesa da política cambial, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comentou que as exportações de produtos manufaturados tiveram aumento de US$ 7 bilhões no primeiro semestre deste ano ante igual período do ano passado. "Este crescimento mostra a força da competitividade da economia brasileira."

Meirelles ressaltou que as vendas de manufaturados apresentaram expansão mais em razão da quantidade de produtos vendidos ao exterior do que pela variação dos preços. Segundo ele, a quantidade de produtos manufaturados exportada teve alta de 17,5% no primeiro semestre, em relação a igual período do ano passado. Os preços, por sua vez, tiveram variação de apenas 10,7% no período.