Título: Parlamentares atacam Meirelles em comissão
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

A política econômica foi bombardeada ontem em reunião de seis comissões da Câmara e do Senado com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Parlamentares bateram duro nos juros altos e na contenção de gastos. Meirelles defendeu a atuação do governo e procurou mostrar que o Brasil colhe frutos de tudo o que os parlamentares criticavam. Ele citou a queda da inflação, o crescimento da economia, a redução do endividamento e a queda do risco país.

"O caminho para diminuir a dívida é o do superávit primário", observou. Para Meirelles, a grande contribuição do BC para a política econômica, cujo objetivo é o crescimento sustentável e a geração de empregos e renda, é garantir a estabilidade da economia.

O deputado Sérgio Miranda (PDT-MG) disse que a imagem que o governo Lula deixará é que governar é pagar juros. O deputado Luiz Carlos Haully (PSDB-PR) lamentou que o País esteja preso na armadilha dos juros altos e cunha fiscal exorbitante. Até parlamentares da base aliada, como Wasny de Roure (PT-DF), contestaram o nível das taxas pagas pelos brasileiros.

"Temos de perseverar no caminho que adotamos", argumentou Meirelles, para uma platéia de poucos parlamentares e lotada de servidores do próprio BC, em greve há 17 dias.

No início da exposição, suas explicações foram interrompidas por um estridente apitaço, que provocou ameaça de retirada dos manifestantes. Pressionado, Meirelles prometeu receber os funcionários na próxima terça-feira. A seguir os principais pontos abordados por Meirelles na audiência pública.

POLÍTICA MONETÁRIA

Continua sendo balizada com o objetivo de uma inflação de 5,1% este ano. Meirelles destacou que o porcentual perseguido está dentro do intervalo de tolerância de dois e meio pontos porcentuais para cima ou para baixo da meta, que é de 4,5%.

CRESCIMENTO

A economia cresce de forma equilibrada. "Não existem desequilíbrios evidentes na economia que possam levar a uma crise", garantiu. Segundo Meirelles, a economia brasileira já cresceu por oito trimestres consecutivos e está se aproximando do recorde de crescimentos trimestrais ininterruptos. Ele disse que a expansão acumulada no período de oito trimestres foi de 9,2%.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO

O caminho para a redução da dívida pública são os saldos positivos entre receitas e despesas. "Não há outro caminho", assegurou, relatando que os países que tomaram essa decisão obtiveram queda gradual do juro, da inflação e perceberam um aumento da decisão de investimentos.

ARGENTINA

Sem citar diretamente o país, Meirelles argumentou que a Argentina sofreu de forte perda de crescimento em razão do não pagamento de suas dívidas externa e interna. "O nível de produção desse país só agora está voltando aos patamares da década de 90", observou. Isso mostra, em seu entender, que o calote não necessariamente resulta em ganho de crescimento. Segundo Meirelles, o país vizinho teve uma perda de crescimento de longo prazo "importante". Apesar disso, ele reconheceu que o risco de países que entraram em moratória tende a cair após a solução do problema.

RISCO PAÍS

Para Meirelles, a queda do risco país aumenta os investimentos na economia. Ele explicou que isso ocorre porque o risco baixo demonstra maior estabilidade e previsibilidade da economia, fatores essenciais na tomada de decisão de investimentos.