Título: Cultivo de laranja fica mais concentrado
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2005, Economia & Negócios, p. B14

A produção e os novos plantios de laranja no cinturão citrícola comercial brasileiro, entre São Paulo e o sul do Triângulo Mineiro, estão cada vez mais concentradas nas mãos dos grandes citricultores, entre os quais se incluem as empresas processadoras de sucos cítricos. A região tem o maior pomar citrícola do planeta, com cerca de 280 milhões de plantas, e é a maior produtora e exportadora mundial de suco de laranja. De acordo com os dados da consultoria Valio Inteligência Competitiva, apresentados ontem, no Dia da Laranja, em Cordeirópolis (SP), existiam nessa região, até meados deste ano, ao final da safra 2004/05, cerca de 9.965 produtores. Mas, do total de pés da fruta, 28,1% são cultivados pelos 0,3% produtores considerados grandes, que possuem mais de 500 mil plantas. Já os pequenos produtores, com menos de 10 mil pés, ainda representam 71,2% do total de citricultores, mas têm apenas 13,4% das plantas na região.

A Valio diz que o cenário para a safra 2006/07 aponta para uma concentração ainda maior, com aumento para 30,5% dos pés de laranja nas mãos dos grandes e a queda para 8,8% dos pés da fruta distribuídos entre os pequenos. "Com isso, estimamos um aumento de 19,6 mil pés por produtor para 28,3 mil pés em 2006/2007, um crescimento absurdo", disse André Marques Válio, diretor da consultoria.

Entre os dados que sustentam as previsões, a empresa aponta que 100% dos grandes produtores e apenas 5% dos pequenos citricultores fazem novos plantios para ampliação ou renovação dos pomares. Um levantamento feito em um raio de 100 quilômetros das regiões citrícolas no entorno das cidades paulistas de Uchôa e Bebedouro apontou que 863 produtores de laranja deixaram a atividade entre 2004 e junho de 2005.

Esse período coincide com a concretização da venda das unidades processadoras da Cargill no Brasil, uma em cada município, para a Cutrale e a Citrosuco. "A grande maioria, cerca de 90% dos produtores, migrou para a cana-de-açúcar, erradicando o pomar, arrendando a terra ou mesmo plantando a nova cultura", disse o consultor.

Então a cana-de-açúcar é a saída para o citricultor? Na avaliação de Waldir Fernandes Júnior, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal (SP), se o citricultor receber mais que US$ 2,48 por caixa de laranja (40,8 kg) entregue à indústria, ele deve continuar na atividade, porque ainda teria lucro com a laranja.

Polêmica entre produtores, a estimativa feita por Fernandes, baseada em diversos levantamentos de preços, aponta que, apesar dos crescentes riscos de pragas e do alto capital necessário para um investimento num pomar até que ele produza comercialmente - quatro anos, em média -, hoje, a laranja rende mais ao produtor. Isso porque a maioria dos citricultores recebe entre US$ 3,10 e US$ 3,50 por caixa da fruta, o que pode dar um lucro de até US$ 1 por caixa ao produtor em comparação ao piso apontado como viável por Fernandes.

Mas se o preço recebido pela caixa ficar entre US$ 2,36 e US$ 2,48, o produtor deve optar pela cana-de-açúcar, pois teria prejuízos se cultivasse a laranja. "Com o preço abaixo de US$ 2,36 por caixa, o citricultor pode desistir. No entanto, ainda não existe uma cultura que dê maior renda do que a laranja, só que o produtor tem de ter um bom capital para imobilizar, pois é preciso esperar quatro anos para ter lucro", reafirmou Fernandes.

"Com a cana, você consegue produzir comercialmente em até um ano, por isso, muitos optam pela migração", completou.