Título: Serra tira poder da pasta de Esportes
Autor: Silvia Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2005, Metrópole, p. C6

Um mal-estar se instalou ontem no governo José Serra (PSDB), com a regulamentação dos Clubes da Comunidade, antigos Centros Desportivos Municipais (CDMs). As novas regras de funcionamento e fiscalização das unidades ¿ cerca de 200 ¿ tiraram da Secretaria Municipal de Esporte praticamente todo o poder sobre os centros esportivos, repassando-o à Secretaria Municipal de Coordenação de Subprefeituras. A pasta de Esportes faz parte da cota de participação do PPS no governo. É comandada por um homem de confiança do partido, Heraldo Corrêa. Já a das Subprefeituras é chefiada por um dos homens fortes de Serra, Walter Feldman.

Os CDMs estão entre as principais promessas de campanha de Serra. Mas, até agora, poucos resultados foram apresentados. Serra prometeu melhorar as unidades e integrá-las às escolas e à comunidade, transformando-as nos Centros Educacionais Unificados (CEUs) ¿ vitrines do governo Marta Suplicy (PT) ¿ dos tucanos. No entanto, a maioria das unidades continua como clube particular, como mostrou o Estado em julho. Em algumas, os moradores são impedidos de entrar.

Com as mudanças, a pasta de Esportes ficará responsável apenas por coordenar políticas esportivas para as unidades. Caberá às subprefeituras fiscalizar as entidades sem fins lucrativos que administram os CDMs e coordenar as eleições das diretorias desses centros.

A Secretaria de Governo, que tomou a frente no debate sobre CDMs e fez o texto final do decreto, publicado ontem no Diário Oficial da Cidade, negou que a decisão tenha sido política e vise a esvaziar a pasta de Esportes. ¿Foi decisão técnica.

Entendemos que os subprefeitos têm melhores condições para fiscalizar essas unidades por estar mais perto delas¿, afirmou o secretário-adjunto de Governo, Alexandre Schneider.

Prova do mal-estar foi a normatização ter saído sem a assinatura do secretário de Esportes, oficialmente o responsável pelos centros esportivos ¿ saem de sua pasta os recursos para reformas e obras. Corrêa se recusou a assinar o decreto por discordar do texto. Outro motivo é que havia se comprometido com a CPI que investiga uso irregular dos CDMs a esperar seu relatório final para ver se traria alguma contribuição à normatização. A secretaria de Governo, porém, diz que seu nome não apareceu por erro na publicação.

Para o presidente da CPI, Aurélio Miguel (PL), ficou clara a intenção do governo de querer esvaziar a secretaria. Corrêa não quis comentar o assunto.