Título: Estudo mostra evolução da produtividade de cortadores
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2005, Economia & Negócios, p. B12

A principal razão para os problemas com os cortadores de cana está no modelo de remuneração dos trabalhadores rurais. Se olhada do ponto de vista da competitividade do setor sucroalcooleiro, está perfeita. O problema é que já existem questionamentos sob o ponto de vista humano. "Não são máquinas. São pessoas, e acho que esta dimensão se perdeu", diz o padre Antonio Garcia Peres, da Pastoral do Migrante. Levantamento da professora Maria Aparecida de Moraes Silva, estudiosa das relações entre capital e trabalho no setor canavieiro, dá a exata dimensão da questão. A evolução da produtividade média por homem da década de 60 para a atual é de 6 vezes. Há pouco mais de 4 décadas, um trabalhador colhia por dia, em média, 2 toneladas. Passou para 5 toneladas na década seguinte e para 8 toneladas na posterior.

A partir de 2000, a situação ganhou dimensão de indústria em escala astronômica. O ritmo hoje é de 12 toneladas por dia. É óbvio que nem todos atingem essa marca, mas há quem alcance números ainda mais surpreendentes, como 20, 25 ou 30 toneladas por dia. "Não houve mutação genética que tornou o homem mais forte. Estamos falando do mesmo homem", pondera Maria Aparecida.

O problema é que, embora haja um piso salarial, a estrutura de custo - principalmente de um migrante - não é comportada pela remuneração. Segundo o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Guariba, Wilson Rodrigues da Silva, a remuneração básica bruta para trabalhadores registrados é de R$ 410 por mês. "Valor maior do que em outras cidades da região", gaba-se.

Para o objetivo essencial do migrante de juntar dinheiro, não há outra alternativa senão esforço adicional para elevar a remuneração. Alguns, como Arlindo Magalhães, conseguem ganhar R$ 800. Mas a ousadia com o corpo pode cobrar caro.

"Não adianta a ação em curso dos Ministérios Públicos Federal e do Trabalho por um fim na terceirização da mão-de-obra. Se o sistema de produtividade não for revisto, o que implica uma remuneração melhor, o mesmo problema continuará a existir", analisa a pesquisadora. Segundo ela, algumas ações de apoio ao trabalhador são importantes, como a oferta de um pão e um suco de manhã. Mas nem esse pequeno suplemento alimentar está livre do preconceito. Fala-se na cidade que a prefeitura não deveria se empenhar tanto na concessão desses benefícios.

Uma pena. Há suspeitas de que a alimentação de arroz, feijão, ovo frito e, às vezes, carne seja insuficiente para sustentar a lida. Muitos reclamam de dores pelo corpo. "Claro", diz Maria Aparecida. "Os trabalhadores suam durante todo o dia. Ingerem água, mas isso não repõe o potássio. A queda do nível de potássio no organismo provoca terríveis dores musculares." Todos os bóias-frias entrevistados queixavam-se destas dores.

USINAS

Representantes dos Ministérios Públicos Federal e do Trabalho reuniram 28 usinas no dia 4 em Ribeirão Preto para discutir os problemas do setor. Uma proposta de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) - instrumento usado para amarrar setores a metas - não obteve sucesso. "O setor ficou quieto", disse o padre Garcia Peres. A União da Agroindústria Canavieira (Unica) também disse pouco. Emitiu uma nota pela qual "orienta" os associados a "cumprirem rigorosamente a legislação em vigor".