Título: Compra de dólares volta a ser discutida
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Economia & Negócios, p. B5

Perspectiva de atuação mais forte do BC no mercado pode dar suporte às cotações

O repique do dólar comercial na semana passada, atribuído pelos analistas à retomada de compra de dólares pelo Banco Central, coincidindo com a volta das preocupações com a elevação dos juros americanos, levantou a discussão sobre o início de um ajuste do câmbio a uma possível mudança no cenário internacional. De fato, a volta do BC ao mercado como comprador de divisas, pela primeira vez desde 16 de março, e a perspectiva de que essas atuações tenham continuidade, como acenou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, podem dar certo suporte às cotações - se não estimulando altas, pelo menos impedindo a queda dos preços a níveis cada vez mais baixos.

Sem o BC, e a menos que ocorra forte redução do superávit comercial, o que parece improvável no curto prazo, o dólar tende a continuar deprimido, segundo analistas de mercado, pelo quadro internacional de elevada liquidez (alta oferta de recursos) e de baixa taxa de juros. Apenas uma mudança nesse cenário que reduza o fluxo de divisas a países emergentes poderia pressionar mais acentuadamente o câmbio.

Por enquanto, o rumo do dólar deve continuar dependendo das compras do governo, seja por meio do BC ou do Banco do Brasil, como agente do Tesouro. As divisas que o BC adquire com leilões no mercado engordam as reservas internacionais, o estoque de moeda forte do País; os dólares comprados pelo Tesouro servem para o pagamento de compromissos (principal e juros) da dívida externa.

O dólar baixo - R$ 2,25 no fechamento de sexta-feira - sugere que o momento é interessante para que o BC reforce as reservas. Um fator limitante, contudo, está no elevado custo fiscal dessa política de reforço de reservas. Ao comprar dólares, o BC emite reais para pagar aos bancos e, em seguida, lança títulos públicos no mercado para recolher esses reais, para não aumentar demasiadamente a oferta de moeda.

Esses títulos, no caso das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), rendem a taxa Selic de 19,5% e as reservas cambiais são remuneradas pelos juros internacionais, bem abaixo dos domésticos.