Título: Vendas externas devem crescer em ritmo menor
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2005, Economia & Negócios, p. B4

Analistas apontam que o dólar barato favorece a redução da inflação e abre caminho para a queda da taxa básica de juros

Na semana passada, os ministros do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e da Agricultura, Roberto Rodrigues criticaram duramente o atual nível da taxa de câmbio e alertaram para o risco que traz para o futuro das exportações. Já o Banco Central (BC) aproveitou o dólar barato e foi às compras, adquirindo mais moeda estrangeira para engordar as reservas internacionais. Também o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do BC, Henrique Meirelles, reafirmaram que a política cambial continuará como está. Para analistas ouvidos pelo Estado, uma coisa parece clara: as exportações serão de fato prejudicadas. Elas continuarão a crescer em 2006, porém num ritmo menor do que o visto neste ano. O dólar barato, no entanto, traz uma série de outros benefícios para a economia.

A expansão das vendas externas prevista para este ano na casa de 20% deve recuar para 6% em 2006. Essa desaceleração na velocidade de crescimento, na avaliação dos analistas, decorrerá da menor rentabilidade gerada pelo dólar. As exportações brasileiras só não vão cair em 2006 porque a economia global continuará aquecida, prevêem analistas. Tal como ocorreu este ano, o mercado mundial seguirá absorvendo as exportações.

Se é fato que o ímpeto exportador irá se reduzir, como sustentou o ministro Furlan, por outro lado os economistas dão razão ao ministro Palocci, quando ele afirma que o dólar barato tem trazido benefícios para o País, principalmente na queda da inflação. Com os preços subindo menos ou até caindo, o dinheiro que está no bolso do trabalhador tem um poder de compra maior.

Mas há mais benefícios pelo real valorizado. A inflação baixa proporcionada pelo dólar barato permite que o BC seja menos rigoroso e corte mais rapidamente a taxa de juros, hoje em 19,5% ao ano. O juro menor, por sua vez, reduz o custo sobre a dívida pública e ajuda a diminuir o endividamento do País.

Ao baratear as compras de produtos no exterior, o câmbio apreciado contribui ainda para aumentar o nível de investimentos na economia. As empresas aproveitam o momento para importar novas máquinas e equipamentos e se tornam mais produtivas. Isso eleva a capacidade de crescimento de médio e longo prazos do País sem riscos inflacionários.

Para o economista da Mauá Investimentos, Caio Meghali, o movimento do câmbio no Brasil hoje é extremamente saudável e não representa um risco. Pelo contrário, avalia ele, traz uma série de benefícios, especialmente na melhoria dos indicadores, como inflação e dívida externa.

Meghali reconhece, entretanto, que a queda na cotação do dólar afeta as exportações brasileiras, mas não de forma dramática porque a situação da economia mundial favorece o comércio exterior brasileiro. "O exportador brasileiro aproveitou bastante a combinação de câmbio depreciado com crescimento da economia mundial que levou a uma explosão das vendas externas", disse o economista. Mas, segundo ele, os empresários agora têm condições de continuar no mercado mundial, que está crescendo, mesmo sem o fator câmbio.

O economista do banco JP Morgan, Júlio Callegari, concorda que a valorização do real traz prejuízos para o exportador, mas também avalia que isso não pode ser visto de forma isolada na análise econômica. "O efeito geral da valorização do real hoje sobre a economia é positivo. É inquestionável o grande benefício que ela trouxe no combate à inflação, o estímulo à queda no juro que, inclusive, vai, mais à frente, estimular um reequilíbrio da cotação da moeda." Para ele, o câmbio atual vai reduzir o ritmo de crescimento das vendas externas em 2006, mas ainda assim permitirá um saldo comercial expressivo.

Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Roberto Segatto, o dólar barato prejudica significativamente a rentabilidade do setor exportador e o acesso aos mercados internacionais. Ele cita como exemplo mais claro a queda na renda do agronegócio, que deve este ano amargar perdas da ordem de R$ 16 bilhões, segundo dados da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Já o enfraquecimento do dólar estimula a renovação do parque industrial, especialmente em setores como o de calçados, madeiras e alimentos, dando mais competitividade ao produto nacional.